Os produtores de álcool hidratado - aquele que pode ser colocado diretamente no tanque dos veículos - passaram a vender este combustível diretamente aos postos de gasolina depois da segunda-feira (03), quando foi sancionada a Lei Federal 14.292 pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Esta lei permite que seja feita este tipo de operação, uma antiga reivindicação dos produtores de álcool que - antes da atual legislação - eram obrigados a vender o produto às distribuidoras de combustíveis.
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Em tese, a venda direta deveria deixar este combustível mais barato, porque evitaria que o produto fizesse um "passeio" até chegar ao posto de gasolina. Essa redução para o consumidor se daria principalmente em postos localizados a pequenas distâncias das usinas.
"Geralmente, a concorrência sempre traz efeitos positivos para o consumidor", diz o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha. As vendas diretas estão autorizadas a serem realizadas com os postos de bandeira branca (sem marca).
No meio empresarial, também há uma argumentação de que o setor dos postos de gasolina é muito competitivo e que à medida que um revendedor baixe o preço do produto, há uma tendência de outros postos fazerem o mesmo.
O presidente do sindicato que representa os empresários dos postos de combustíveis (Sindicombustíveis), Alfredo Pinheiro Ramos, diz que só vai ter uma noção melhor do impacto que a venda direta vai trazer ao consumidor final depois de fevereiro, quando acabar a safra local da cana-de-açúcar. Em Pernambuco, o álcool e o açúcar são produzidos durante a moagem que começa no final de agosto/setembro e se estende, geralmente, até março. No Sudeste/Centro-Oeste, a safra ocorre de abril a novembro.
"Ate agora, observamos que houve uma diminuição em torno de R$ 0,25 para o consumidor final, mas isso vem ocorrendo por causa da safra da cana-de-açúcar que está ocorrendo agora. Somente lembrando que o mercado é livre e cada revendedor estabelece seus preços e suas próprias margens de lucro. Todo ano, o preço do álcool baixa durante a safra, porque tem mais produto no mercado", explica Alfredo.
Quando a safra do Nordeste acaba, o álcool consumido localmente passa a ser fornecido por usinas que estão em outros Estados, como Mato Grosso e São Paulo, percorrendo grandes distâncias para chegar ao Nordeste. "O álcool de São Paulo e do Centro-Oeste é mais barato, mas o frete encarece", comenta Alfredo.
A produção de cana-de-açúcar e seus derivados é mais competitiva no Sudeste/Centro-Oeste, porque os plantios lá correm em áreas planas, enquanto no Nordeste a cana-de-açúcar é cultivada em áreas de declive, o que contribui para aumentar o seu custo de produção.