No metrô, os usuários russos não conseguem mais pagar o bilhete usando o celular e foi preciso voltar ao antigo tíquete. O dinheiro em cédula, que quase não se via após a consolidação dos cartões, voltou a fazer parte do dia a dia. De uma hora para outra, o ato corriqueiro de navegar pelas redes sociais foi proibido. As sanções impostas à Rússia, desde que o país decidiu invadir a Ucrânia no dia 24 de fevereiro, parecem ter transportado a população para um outro tempo, de volta ao passado. Além de perder o acesso a tecnologias e instrumentos que faziam parte do cotidiano, o povo também ficou isolado. É como se ficassem alijados do conceito de globalização, sem acesso a produtos, serviços e eventos comuns à comunidade mundial.
Mesmo diante de um mercado consumidor de 144 milhões de russos, a Apple dicidiu barrar a venda dos seus iPhone, iPad, MacBook e outros produtos no país. Desde que a guerra começou, 30 empresas se retiraram do país ou suspenderam seus serviços para tentar 'sufocar' economicamente a Rússia e forçar o presidente Vladmir Putin a recuar. Entre as companhias estão petrolíferas, montadoras, indústrias de alimentos e representantes do mercado financeiro como BP, Shell, Renault, Boeing, Apple, Coca-Cola, Visa e Mastercard.
As sanções deixam a Rússia diante de um cenário anacrônico. Os problemas com cartões de crédito e de débito fizeram as pessoas correr e formar enormes filas nos caixas eletrônicos para se abastecer de rublos. Sem a 'moeda de plástico', as pessoas vão retroceder aos tempos em que se guardava dinheiro no colchão. A correria para sacar os rublos também era para trocar por dólar, já que a moeda russa já se desvalorizou 30%.
A guerra econômica e de suprimento impacta diretamente na vida das pessoas. Nos últimos 40 anos o mundo se globalizou totalmente, com exceção de poucos países. E a Rússia não é autossuficiente, ela precisa de outros países para ter acesso a bens e serviços. A medida em que a guerra avança a Rússia vai ficando isolada e vai se fechando em uma ilha comercial. A população sofre porque o acesso a produtos e serviços vai ficar cada vez mais difícil. E é exatamente essa a estratégia dos países que são contra a guerra: impelir a população russa a pressionar o governo para voltar a ter acesso a produtos, bens e serviços", explica o economista e professor universitário, Paulo Alencar.
Outro 'castigo' imposto à população russa foi bloquear o acesso às redes sociais. Isso também está acontecendo com a população russa. Além das sanções importas por parceiros comerciais, o próprio governo decidiu impor suas limitações. Nesta sexta-feira (4), o governo russo bloqueou o acesso dos usuários às suas contas no Facebook e no Twitter. Por meio de nota, o governo russo informou: "Em 4 de março de 2022, foi tomada a decisão de bloquear o acesso à rede do Facebook (de propriedade da Meta Platforms, Inc.) no território da Federação Russa”, diz o comunicado. O acesso à rede já estava limitado desde o dia 25 de fevereiro.
O que aconteceria se a seleção Brasileira fosse proibida de participar da Copa do Mundo? No mínimo desencadearia uma crise de identidade nacional. A guerra tirou da Rússia a possibilidade de disputar a Copa do Mundo do Catar, marcada para novembro desde ano. A seleção estava na repescagem para se classificar depois de sediar a edição passada, mas foi excluída da maior festa do futebol mundial.
As sanções também estão presentes no cinema. Grandes estúdios como Disney, Sony Pictures e Warner Media suspenderam as estreias de seus longas nos cinemas russos. Um dos filmes que os russos não terão acesso será o esperado Batman, que já estreou nos Estados Unidos.
Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e consultor de empresas, Ecio Costa, destaca que a tecnologia tem uma importância muito grande na vida das pessoas e deixar de ter acesso é como estar isolado, fora do presente. "Somos dependentes do uso da tecnologia e a guerra gera um isolamento, deixa as pessoas sem acesso a essas facilidades. O impacto é grande porque hoje o celular é uma empresa, um meio de comunicação, um meio de pagamento e recebimento, além do contato com as pessoas", observa.