Presidente do Comitê Nacional dos Secretários de Estado da Fazenda (Comsefaz) e secretário da Fazenda de Pernambuco, Décio Padilha aponta prejuízo que pode girar em torno de R$ 18 bilhões para os Estados após a aprovação do projeto que altera o modelo de cobrança do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
Ele diz ser uma pena a politização do tributo. "O debate não está sendo técnico. Infelizmente, formadores de opinião colocaram que o ICMS é o vilão, mas volto a dizer que ele está congelado e, ainda assim, houve aumento de 24,9%. Lembro que 81% de todas as cargas do Brasil são transportadas por rodovias através de caminhões. A inflação vai pipocando com esses aumentos do diesel e a Petrobras assiste toda essa confusão como se o problema não fosse com ela", pontuou.
Décio Padilha ainda disse não haver recursos na união para bancar um auxílio combustível aprovado no Senado. O auxílio-gasolina deve beneficiar motoristas de baixa renda. O custo é de R$ 3 bilhões e beneficiaria motoristas autônomos, taxistas e motociclistas de aplicativo com renda familiar mensal de até três salários mínimos. O benefício, porém, esbarra na lei eleitoral, que proíbe a criação de novos subsídios em ano de eleições. Aliados do governo do presidente Jair Bolsonaro defenderam o auxílio e afirmaram que a proposta veio do governo e é de interesse direto do chefe do Planalto, em busca de reeleição. O Executivo, no entanto, ainda analisa a legalidade do pagamento. Se o subsídio não puder ser criado neste ano, só poderia ser pago em 2023 pelo governo eleito em outubro. Em último caso, o dispositivo poderá ser vetado pelo Planalto.
"Toda unidade federada deficitária não pode abrir mão de receita. Se abrir mão de receita, ela não faz o que chamamos cumprimento de passivo das despesas. A União tem resultado negativo, isso vai pesar no fechamento das contas. Quem fechou com resultado positivo foi o setor público geral, juntando Estados, municípios e União. Mas, ela sozinha é deficitária, em torno de R$ 35 bilhões, não tem de onde retirar o dinheiro. Vai emitir título, arrolar dívida, não tem lastro financeiro para isso", comentou Décio Padilha.
O presidente do Comsefaz ainda destacou que não adianta alterar o ICMS visando resolver os impactos da guerra na Ucrânia na economia global. "É você ter câncer de pele e colocar um Band-Aid. Não vai efetivamente fazer nada para a cicatrização. O Brasil colocou uma solução estrutural, que é mexer em tributo, para resolver uma questão conjuntural, que é a guerra. O conflito impõe elevação do petróleo brent e o primeiro eixo de aumento é o diesel, o segundo é o dólar. Enquanto tiver guerra vai ter esses vieses e não resolve mexendo no tributo de 30 anos. Os Estados têm obrigação com segurança, educação, saúde, e a União só baixa tributo irrelevante para ela. Quero ver baixar PIS da prestação de serviço, que a arrecadação é alta e não compartilhada com Estados. Baixou IPI, que é compartilhado", disse. Auxílio
Guerra
O Congresso Nacional aprovou projeto que altera a tributação dos combustíveis, como uma aternativa para amenizar os reajustes impostos pela Petrobras. A expectativa, agora, é pela sanção do texto pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). Na prática, os consumidores querem saber se isso vai significar uma redução do preço na bomba. Especialistas ouvidos pelo JC dizem que, em um primeiro momento, a medida poderá segurar os valores, evitando que a situação ruim fique péssima. Mas, se a Petrobras continuar praticando aumentos muito altos, vai engolir a economia de centavos do ICMS e "praticamente eliminar" o efeito na redução do tributo.
O advogado especialista em direito tributário e professor da empresa pernambucana de cursos práticos on-line ITS EDU, Pedro Amarante, ajuda a fazer uma simulação para explicar a redução do ICMS nos combustíveis. "Vamos imaginar que o litro da gasolina em Pernambuco estava custando R$ 6,59. Aí a Petrobras reajustou o combustível em R$ 0,61. Além disso, o ICMS contribuiria com mais R$ 0,20 sobre o preço. Isso quer dizer que o aumento seria de R$ 0,81 sobre R$ 6,59; ficando em R$ 7,40. Pela nova legislação, o aumento seria os R$ 0,61 da Petrobras, ficando em R$ 7,20", compara.
Pela regra atual, o ICMS dos combustíveis incide sobre o preço na bomba para o consumidor final. Isso quer dizer que, a cada reajuste da Petrobras, o valor do imposto subiria também. Para evitar esse efeito dobrado no preço a cada aumento da estatal, os governos dos Estados congelaram por cinco meses o valor médio do ICMS ao consumidor final. O projeto votado pelo congresso prevê um valor fixo para o metro cúbico dos combustíveis, a exemplo do cálculo da Cofins.
O presidente do Comitê Nacional dos Secretários de Estado da Fazenda (Comsefaz) e secretário da Fazenda de Pernambuco, Décio Padilha, defende que a solução para o problema não está no ICMS e sim na mudança na política de preços da Petrobras, que deveria internacionalizar apenas a parte de combustíveis que importa, ao invés de utilizar a mesma regra com base no preço do petróleo, do dólar e dos indumos importados para balizar os aumentos.
Padilha calcula que o prejuízo para os Estados pode ser de R$ 18 bilhões com a mudança na tributação de ICMS e para Pernambuco deverá passar de R$ 400 milhões. O combustível é o principal segmento de arrecadação do Estado e registrou crescimento superior a 40% entre 2020 e 2021.
"A alteração na tributação do ICMS foi uma das alternativas encontradas pelo governo federal para segurar os preços dos combustíveis, mas terá um efeito minguante se os reajustes da Petrobras continuarem sendo altos e se sobrepusserem. O sentimento do consumidor será igual: de que os preços estão subindo e contribuindo para aumentar a inflação. É um problema geral porque todo mundo precisa se locomover. Os caminhoneiros, por exemplo, já ameaçaram realizar uma nova greve", pontua Pedro Amarante.