IPCA: deflação foi puxada por combustíveis; preço de alimentos sobem

A inflação negativa esconde um problema ainda não resolvido, o aumento significativo no preço dos alimentos
Edilson Vieira
Publicado em 09/08/2022 às 16:28
Supermercado Foto: Valter Campanato/Agência Brasil


Com informações da Agência Brasil

 Embora o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tenha registrado  deflação de 0,68%, em julho, o grupo de alimentos e bebidas seguiu com alta de preços.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou nesta terça-feira (9) os dados da inflação oficial do país, a alta de 25,46% no leite longa vida e de 14,06% em leites e derivados, pressionou o grupo, que ficou 1,30% mais caro no mês.

De acordo com o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov, o grupo teve a maior variação positiva no mês, após subir 0,80% em junho, impactado pelo período de entressafra do leite, que está sendo mais forte do que nos últimos anos, e também pelo aumento do custo aos produtores, incluindo transporte e energia elétrica.

Guerra prejudicou o setor produtivo

"Essa alta dos preços do leite é explicada pelo período de entressafra, que vai de março até setembro, outubro, quando as pastagens estão mais secas e prejudica a oferta do produto. Mas também por uma alta dos custos ao produtor, como o de ração animal, principalmente soja e milho, e de fertilizantes e outros insumos. Vamos lembrar que dois grandes exportadores de insumos agrícolas são a Rússia e a Ucrânia, então a exportação foi prejudicada com o advento da guerra no início do ano."

Em junho, o leite longa vida já havia subido 10,72%. No acumulado do ano o produto ficou 77,84% mais caro e em 12 meses a alta é de 66,46%. Também subiram em julho derivados como o queijo (5,28%), a manteiga (5,75%) e o leite condensado (6,66%).

Com a alta do leite, a alimentação no domicílio acelerou de 0,63% em junho para 1,47% em julho. Já a alimentação fora do domicílio desacelerou de 1,26% em junho para 0,82%.

As frutas tiveram alta de 4,40% no mês e acumulam aumento de 35,36% em 12 meses. Por outro lado, tubérculos, raízes e legumes tiveram queda de 15,62% em julho, com destaque para o tomate (-23,68%), a batata-inglesa (-16,62%) e a cenoura (-15,34%). Porém, no acumulado de 12 meses o tomate ficou 7,45% mais caro, a batata-inglesa 66,82% e a cenoura está custando 37,82% a mais do que há um ano. A cebola acumula alta de 75,15% no período.

Transporte foi impactado pelo aumento das passagens aéreas

Segundo o IBGE, a queda no IPCA foi puxada pela redução no preço dos combustíveis, já que em julho a gasolina caiu 15,48%, o etanol teve redução de 11,38% e o gás veicular ficou 5,67% mais barato. O grupo transportes passou de 0,57% em junho para -4,51% em julho. O acumulado do ano registra -1%

Por outro lado, também dentro do grupo transporte, o preço das passagens aéreas contribuiu com o segundo maior impacto positivo no índice, com alta de 8,02% no mês e de 77,68% no acumulado de 12 meses.

"Os preços vêm subindo desde abril, o que  está relacionado ao aumento do querosene de aviação, à variação cambial, já que houve uma valorização do dólar frente ao real, e um aumento na demanda, com a retomada do setor de serviços com a melhora no cenário da pandemia, em especial alguns serviços ligados ao turismo", explicou Kislanov.

Produtos que apresentaram baixa nos preços

O grupo vestuário apresentou desaceleração de 1,67% para 0,58% no mês, com a queda no preço do algodão. Saúde e cuidados pessoais desaceleraram de 1,24%, em junho, para 0,49% em julho devido à menor variação nos planos de saúde e à queda de 0,23% dos itens de higiene pessoal.

O grupo de despesas pessoais passou de 1,13% para 0,49%, sendo as principais altas em empregado doméstico (1,25%) e cigarro (4,37%). Habitação caiu 1,05%, influenciada pela redução de 5,78% na energia elétrica residencial.

Por região metropolitana, todas as áreas pesquisadas tiveram variação negativa em julho. A menor variação ocorreu em Goiânia (-2,12%), com as quedas de 21,57% na gasolina e de 14,90% na energia elétrica. A maior variação foi registrada em São Paulo (-0,07%), a única região que teve alta de energia elétrica (0,37%).

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