Após meses de espera, a Petrobras anunciou a nova estratégia comercial para combustíveis, promessa de campanha do presidente Lula de "abrasileirar" os preços praticados pela estatal.
Num primeiro momento, as mudanças não alteram radicalmente o que vem sendo feito: na avaliação de analistas, o teste acontecerá quando o preço do petróleo subir.
Para parte do mercado, porém, a principal novidade da nova política é abandono da transparência e da previsibilidade. Com a estratégia, a Petrobras anunciou a queda do preço de combustíveis, apresentada como sendo já resultado dessa nova visão.
Em comunicado ao mercado sem grandes elementos para análise, a estatal disse que abandonou o Preço de Paridade de Importação (PPI) para a gasolina e o diesel, implantado pela Petrobras em 2016, que levava em conta a cotação do petróleo no mercado internacional, o câmbio e o custo da importação.
Vai adotar como parâmetro, a partir de agora, o custo alternativo do cliente e o valor marginal à própria estatal. Ou seja, a Petrobras vai olhar mais para dentro do que para fora, o que reduz a transparência dos reajustes nas refinarias da empresa.
"Quando fala que vai levar em consideração o custo dela (Petrobras), está dizendo que não vai levar em conta o preço internacional, ou seja, o preço passou a ter parâmetro apenas nacional, e isso é negativo", diz o analista da Ativa Investimentos Ilan Arbetman.
Para ele, não houve nenhum "cavalo de pau", como um anúncio de subsídio ou represamento de preços, como ocorreu em 2015, o que está fazendo as ações da companhia subirem expressivamente no pregão de ontem na Bolsa de valores.
As ações da Petrobras fecharam o pregão com alta: as preferenciais (PETR4) subiram 2,49%; e as ordinárias (PETR3), 2,24% (leia mais na Pág. B3).
"A gente tem de dar um tempo para ver como será, na prática, quando o preço do (petróleo do tipo) Brent tiver mudanças mais bruscas", afirma Arbetman. "O teste da nova política vai ser quando o Brent alcançar US$ 100 (o barril)."
Em Brasília, ao lado do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, anunciou a queda da gasolina em R$ 0,40 por litro; o diesel, em R$ 0,44 por litro, e o GLP, em R$ 0,69 por litro.
Segundo dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), que leva em conta o PPI, a gasolina estava 15% mais cara no mercado interno desde meados de abril e poderia ter queda de R$ 0,42; o diesel era negociado 9% acima do preço internacional, com margem para redução de R$ 0,28.
Já o gás de cozinha, segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), estava 63% mais caro, com janela para uma queda de R$ 1,25.
Ao dar adeus ao PPI, o ministro Silveira disse que essa referência "era uma mentira e um crime contra o povo brasileiro, pois impunha uma algema, uma mordaça".
"Quando subir (o preço do petróleo), o nosso preço vai subir, mas não com a volatilidade que ocorreu em 2021 e 2022", disse o presidente da estatal, referindo-se ao governo Bolsonaro, que manteve o PPI, implantada em 2016, durante o governo Temer.