Aos poucos, alguns países estão começando a permitir a volta das atividades esportivas durante a pandemia do novo coronavírus. Na França, um dos locais que deram início à flexibilização das regras de isolamento, os atletas seguem tentando se adaptar com algumas restrições. Esse é o caso de Fernanda Maciel, ultramaratonista de montanhas que mora em Chamonix, cidade com pouco mais de 8 mil habitantes.
Após ficar em quarentena por 56 dias, desde março, a brasileira retornou às atividades ao ar livre em maio. "Faz duas semanas que eu voltei a sair de casa, sentir o frio de verdade, o vento na cara", conta em entrevista ao Estadão. "Pela janela, eu podia ver as montanhas, o nascer do sol... Agora eu consigo sentir o prazer de ter voltado para a montanha. É algo maravilhoso."
Antes, as regras permitiam que ela pudesse sair de casa apenas para ir ao supermercado ou à farmácia, no máximo até um quilômetro de distância. As saídas deveriam seguir as recomendações das organizações de saúde, como usar máscara e luva.
"No início, o governo havia anunciado que seriam 15 dias de isolamento. Até então, eu estava bem, mesmo sem poder sair para correr pelas montanhas. Como eu tinha acabado de competir uma prova de 100 km na Grã-Canária, ilha na Espanha, o meu corpo estava precisando desse descanso, dessa recuperação. A minha ânsia por correr não estava tão alta, o que foi positivo", avalia Fernanda. "Quando eu percebi que iria ficar mais tempo em casa por conta das restrições, comprei um rolo para colocar a minha bicicleta e pedalar dentro de casa. E também uma esteira. Pude correr e fazer os treinos de cardio. É diferente de correr na montanha, mas era o modo de manter a forma."
A brasileira conta que o início da quarentena na França foi "um pouco assustador", mas ela usou a meditação para melhorar a sua rotina. "Também mudei a minha forma de pensar e passei a ver esse período como uma pré-temporada. Tinha de fortalecer a minha base, musculatura e tendões. E foi o que eu fiz. Agora, eu posso sair de casa e correr. Estou muito feliz. E esses dois meses parada foram positivos de alguma maneira. Aprendi a meditar muito mais e foquei na força mental, o que, para o meu esporte, é tão importante quanto manter o corpo em forma."
Manter contato com a família que está no Brasil também ajudou Fernanda a superar as dificuldades neste período. "No Brasil, temos a palavra que é saudade. Eu morro de saudade da minha família e dos meus amigos. Eu falo com eles todos os dias e compartilhamos esse sentimento e as diferenças entre a França e o Brasil. Aqui na França, todo mundo respeitou as regras. Na minha família, todos estão confinados. Esperamos que cada um possa fazer a sua parte durante a pandemia e assim todos vamos sair dessa situação", diz.
Aos 39 anos, Fernanda planeja voltar a competir e seguir reforçando os seus treinos até o fim da pandemia. Atualmente, ela acumula diversas conquistas na sua modalidade, entre elas estão dois recordes mundiais: subir e descer correndo a montanha mais alta da África, o Monte Kilimanjaro, em 10 horas e 6 minutos, a conquista do Elbrus, subir a montanha mais alta da Europa em apenas 7 horas e 40 minutos.
Sem parar de treinar
Saudade e conquistas