Novak Djokovic encerrou neste domingo uma sequência de 29 vitórias consecutivas no circuito. Foram 26 triunfos neste ano e mais três obtidos no fim da temporada passada. Mas, se dentro de quadra o sérvio brilha como nenhum outro em 2020, fora das quadras o número 1 do mundo já acumula uma série de polêmicas e decepções, entre declarações e ações discutíveis.
A mais recente delas foi a desclassificação do US Open, no domingo, por ter acertado uma bolada, sem intenção, numa juíza de linha. O sérvio enfrentava o espanhol Pablo Carreño Busta pelas oitavas de final. Perdendo o primeiro set, ele tentou descontar sua insatisfação na bolinha e, quase de costas, atingiu o pescoço da árbitra, que foi ao chão e assustou a organização.
Horas depois, o primeiro número 1 do mundo da história a ser desclassificado de um Grand Slam emitiu nota para pedir desculpas e afirmar que encararia o episódio como "uma lição". "Tenho de voltar a mim mesmo e trabalhar na minha decepção e transformar tudo isto numa lição para o meu crescimento e evolução como jogador e ser humano".
Para Boris Becker, ex-jogador e ex-técnico do próprio Djokovic, foi o pior momento da vitoriosa carreira do sérvio. "Fiquei chocado. Este é provavelmente o momento mais difícil de toda a sua vida profissional. Ele estava em sua melhor forma técnica, invicto no ano, no caminho para conquistar seu 18º título de Grand Slam", afirmou o alemão.
O pedido público de desculpas foi apenas mais um no tumultuado ano de Djokovic. O mais famoso deles aconteceu em junho quando o tenista virou notícia até mesmo fora do âmbito esportivo por ter organizado uma série de exibições na Croácia e na Sérvia em meio à pandemia do novo coronavírus. Um dos jogos chegou a reunir 4 mil pessoas nas arquibancadas, sem respeitar qualquer regra de distanciamento social.
Djokovic precisou vir a público para pedir desculpas, cancelar as exibições e ainda confirmar que ele e sua esposa haviam contraído a covid-19. O mesmo aconteceu com outros tenistas e preparadores físicos envolvidos naquelas partidas, que tinham objetivo beneficente.
Antes, ainda no início da pandemia, o líder do ranking chamou a atenção mundial ao dar declarações contra a vacinação obrigatória. O epidemiologista do governo sérvio, Predrag Kon, precisou vir a público para rebater a opinião do tenista, que tem status de astro em seu país. "Como um dos fãs mais leais a Djokovic, eu desejaria ter a oportunidade de explicar a importância e imensa contribuição que a imunização tem para a saúde da população. Mas acho que agora é tarde, ele já criou conceitos errados na população", declarou o médico, em abril.
O atleta sérvio também atraiu os holofotes ao afirmar que, com o poder da mente, o ser humano poderia transformar a água do esgoto em cristalina, até mesmo com poderes curativos. Sua esposa, Jelena Djokovic, também polemizou nas redes sociais ao compartilhar conteúdo conspiratório sobre a suposta relação entre a tecnologia 5G e a covid-19. O Instagram chegou a advertir a esposa do tenista por conta da recorrente publicação de fake news.
Mais recentemente, às vésperas do US Open, o tenista voltou a virar notícia por motivos extraquadra. Ele e outros tenistas de menor ranking anunciaram uma nova associação de jogadores, a Professional Tennis Players Association (PTPA), paralela à já consagrada ATP, fundada na década de 70.
Na avaliação de Djokovic, a ATP não estava dando conta das demandas dos tenistas. Ele, no entanto, era o presidente do Conselho dos Jogadores da entidade. Precisou deixar o cargo, espontaneamente, para fundar a nova associação. A ATP alega que as duas entidades não podem coexistir tanto na prática quanto em termos jurídicos. Assim, a PTPA tem potencial para causar divisão entre os atletas. No mesmo dia do anúncio oficial da nova associação, os principais órgãos do tênis mundial e ídolos como Roger Federer e Rafael Nadal reprovaram a iniciativa e reforçaram o apoio à ATP.
As posições polêmicas, principalmente quanto à vacinação, contrastam com seu papel filantrópico. Entre 2011 e 2015, o sérvio foi embaixador da Sérvia junto à UNICEF, o Fundo das Nações Unidas para a Infância. Depois, ele exerceu a função de Embaixador da Boa Vontade da UNICEF até maio deste ano.
Djokovic tem o apoio de fortes patrocinadores em nível global, como Lacoste, Asics, Peugeot e Seiko, mas nenhuma das marcas apoiadores do atleta se manifestou sobre suas opiniões ou ações polêmicas nos últimos meses. Nas redes sociais, o sérvio vem se tornando alvo fácil de críticas, até mesmo no circuito, caso dos ataques constantes do tenista australiano Nick Kyrgios.
Por ocasião das exibições que resultaram em diversos casos positivos para o novo coronavírus, o 40º do ranking ironizou a imagem de "bad boy" que ele mesmo tem no circuito. "Peço orações a todos os jogadores que contraíram covid-19. Só não me marquem em nada que eu fiz por ter sido considerado 'irresponsável' ou 'estúpido'. Isso aqui leva o prêmio", declarou o australiano.