Se nos três primeiros meses do ano, o Santa Cruz sofreu com o calendário apertado, tendo inclusive de fazer duas partidas em um intervalo de apenas 48 horas (contra o Salgueiro, pelo Pernambucano, numa terça-feira; diante do ABC, pela Copa do Nordeste, numa quinta-feira, ambas no Arruda), após a paralisação do futebol por conta da pandemia do novo coronavírus a tendência é de que os jogos sigam esse cronograma mais apertado. O que preocupa bastante o técnico Itamar Schulle, que teme um excesso de jogadores entregues ao departamento médico.
"Ainda não tem uma data prevista para todos os clubes voltarem. Uns voltam dia 20, outros dia 30, como vai acontecer com o Santa Cruz... Mas a CBF vai dar um mês para os atletas se prepararem fisicamente, muscularmente e tecnicamente? Não. No máximo vão dar duas semanas (para uma espécie de inter-temporada). Não se consegue preparar ninguém. Parte física esquece. Você vai fazer o mínimo de preparação", comentou Itamar Schulle, em entrevista ao repórter João Victor Amorim, da Rádio Jornal.
Esse período reduzido para recuperar o elenco, preocupa o comandante coral. "Vamos ter de fazer um jogo a cada dois dias. Dá pra fazer? Dá, mas qualidade técnica esquece. Os jogadores vão fazer dois jogos e, no terceiro, terá uma lesão... E perder esse atleta, é perdê-lo por um mês, 45 dias. O time que voltar a jogar, com pouco tempo depois vai estar com 60% dele no DM. E quem jogar, vão dizer: 'antes da parada eles estavam bem e agora não está'. Claro, ele não teve tempo para se preparar, fazer um jogo-treino. A qualidade vai cair muito e as lesões vão crescer muito. Quem perde com isso é o clube, quem paga o jogador machucado é o clube, e quem perde também é o atleta, que não irá jogar e não irá desenvolver o seu trabalho. Quem também perde é a comissão técnica, porque quando o resultado não vem, ele será mandado embora e troca o treinador", desabafou.
Diante dos fatos apresentados, Schulle espera que os dirigentes da CBF e das federações tenham sensibilidade para prezar pela condição do atletas. "Só vejo coisas difíceis pela frente. Tomara que as entidades que comandam o futebol tenham essa visão, porque está sentado na cadeira, com tudo tranquilo, é uma coisa... Mas quem trabalha no dia dia dos clubes é quem sabe o quanto é difícil, a luta da diretoria para manter os salários em dia. Espero que quem comanda o futebol, quem está no topo da pirâmide, tenha essa noção para ajudar os clubes a ter condições de fazer um trabalho adequado. Caso contrário, a parte técnica vai ficar deficitária e teremos muitos prejuízos em torno de lesão propriamente dita", comentou Itamar.