ARRUDA

Santa Cruz: veja os impactos de ficar muito tempo nas divisões inferiores do Brasileiro

Nos últimos 14 anos, o Tricolor acumulou fracassos nos campeonatos nacionais, passando mais tempo nas Séries C e D do que nas divisões superiores

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LOURENÇO GADÊLHA

Publicado em 31/01/2021 às 9:03 | Atualizado em 31/01/2021 às 18:53
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Com a proximidade do processo eleitoral, marcado para acontecer no dia 10 de fevereiro, o Santa Cruz vive um momento de efervescência política nos seus bastidores, onde três chapas pleiteiam o comando do Tricolor do Arruda no próximo triênio (2021-2023). Quem assumir o clube vai ter como principal missão tirar o time da Terceira Divisão do Campeonato Brasileiro, que os corais vão disputar pela quarta temporada consecutiva.

Abrindo o leque, a realidade é ainda mais preocupante. Desde 2008, quando jogou a Terceira Divisão pela primeira vez, o Santa Cruz está indo em 2021 para a 10ª temporada jogando nas Séries C ou D. Nesse período, apenas em 2016 o tricolor jogou a Série A do Brasileiro. É bem verdade que de lá para cá, a Cobra Coral também teve sucesso, especialmente na conquista de títulos estaduais e da Copa do Nordeste. Porém, a nível nacional, foi ficando cada vez mais distante das duas principais divisões do País.

IMPACTOS FINANCEIROS

A reportagem do Jornal do Commercio e do Blog do Torcedor conversou com o jornalista especializado em negócios do esporte Rodrigo Capelo, que participa bastante de programas do canal fechado Sportv, para elucidar os impactos financeiros causados pelos anos sucessivos do Santa Cruz nas divisões inferiores do cenário nacional. Na opinião do especialista, o maior problema a curto prazo está nos direitos de transmissão, já que nenhum valor é repassado aos clubes por suas exibições nas Séries C e D. Esse impacto, comparado ao menos à Série B, chega a uma perda anual de pelo menos R$ 8 milhões no orçamento.

"Na Série B, os clubes têm cerca de R$ 8 milhões de direitos de transmissão, enquanto na Terceira Divisão não tem nada. É um valor relevante, ainda mais tratando-se de um orçamento do Santa Cruz que girou em torno de R$ 22 milhões em receita. Se estivesse na B, teria 8 milhões a mais, então seria uma diferença razoável. Esse é o impacto de curto prazo mais fácil de sentir", explicou Capelo.

ENDIVIDAMENTO

Com o dinheiro cada vez mais curto, foram inevitáveis os atrasos salariais de atletas e funcionários ao longo dos anos, acúmulo de dívidas trabalhistas, entre outras dificuldades financeiras que estiveram do dia-a-dia do Arruda.

O Santa Cruz viu seu endividamento geral em 2019 subir para R$ 170 milhões, de acordo com o balanço divulgado à época. A tendência, inclusive, é que no balanço de 2020 que ainda será divulgado, esse número suba ainda mais, tendo em vista todos os impactos financeiros causados pela pandemia do novo coronavírus. Neste contexto, é válido ressaltar que o Santa Cruz não será uma exceção, já que a maioria dos clubes devem passar pelo mesmo problema.

Segundo Capelo, o balanço financeiro de 2019, este, inclusive, o único divulgado pelo clube que foi auditado nos últimos anos, apontou uma receita anual de R$ 22 milhões e uma despesa de R$ 17 milhões. Além disso, o clube ainda pegou emprestado em financiamentos um valor em torno de R$ 14 milhões. Isso significa dizer que o Santa Cruz não consegue pagar suas obrigações cotidianas apenas com suas receitas.

"Não é apenas uma questão de receita e despesa. Ou seja, você arrecada tudo que consegue com televisão, marketing, bilheteria, sócio torcedor, venda de jogador e paga o salário dos jogadores, os encargos trabalhistas, mas não é só isso, porque o Santa Cruz também é um clube muito endividado. Como ele não consegue dar conta com a sua receita de pagar as despesas e mais dívidas, ele acaba se endividando muito mais e vai buscar empréstimo bancário, conforme sinalizado no balanço de 2019", comentou Rodrigo Capelo.

FUTURO

Em meio à tanta dificuldade, prospectar o futuro parece uma tarefa bem difícil nas Repúblicas Independentes do Arruda. Mas para projetar uma luz no fim do túnel, na avaliação de Rodrigo Capelo, o Santa Cruz precisa ir além da austeridade em abater a despesa da receita e ainda sobrar algum dinheiro para saldar débitos, renegociar dívidas com os credores, esticar pagamentos e, eventualmente, conseguir descontos.

"Essa é a cartilha que todos os clubes que se reestruturaram no futebol brasileiro fizeram. Só que no Santa Cruz é mais difícil porque tem menos receita. Então é necessário falar de reforma política para que novas pessoas participem do sistema político, sejam associadas, paguem suas mensalidades, tenham mais transparência, mais acesso a política. Isso é um ponto crucial em todos os clubes", disse Capelo, que ainda pontuou a necessidade de uma maior profissionalização no Mais Querido.

"Uma reforma administrativa, o fato de ter um balanço auditado já dá um sinal que o Santa Cruz está avançando nesse sentido, mas o ideal é que haja profissionais contratados para as principais áreas (jurídico, marketing, financeiro e futebol). Eu sei que é difícil contratar profissionais com a dificuldade de pagar salários em dia. Então no primeiro momento vai ter que recorrer aos mais apaixonados. Reestruturação administrativa e financeira fazendo renegociação com credores, reestruturação política e, no fim das contas, voltar à Segunda Divisão, porque aí vai ter mais dinheiro, mais exposição, uma vitrine maior para os jogadores que estão no Santa Cruz. Voltar para a Série B é indispensável, finalizou Rodrigo Capelo.

COPA DO NORDESTE

Para não comprometer ainda mais as finanças de 2021, o Santa Cruz precisa se classificar para a fase de grupos da Copa do Nordeste. Depois de empatar por 2x2 com o Itabaiana em Sergipe na semana passada, o tricolor recebe o adversário na próxima terça (2) no Arruda, no jogo de volta da fase eliminatória. A partida terá a transmissão da TV Jornal.

Uma boa notícia é que o Santa Cruz conseguiu estender o contrato do técnico Marcelo Martelotte e mais seis jogadores. O treinador tricolor, o goleiro Jordan, o lateral-direito Toty, o lateral-esquerdo Perí, o meia Didira e os atacantes Caio Mancha e Lourenço tiveram os nomes publicados no Boletim Informativo Diário (BID) da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e vão poder enfrentar o Itabaiana. Também tiveram os vínculos estendidos o zagueiro Célio Santos, o lateral-direito Augusto Potiguar e os meias Tinga e Chiquinho.

 

 

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