Coronavírus: Especialistas temem que normalização prematura cause segunda onda de infecções nos EUA

O presidente Trump espera que as atividades voltem ao normal em maio, nos EUA
AFP
Publicado em 13/04/2020 às 23:31
Novo coronavírus já fez milhares de vítimas ao redor do mundo Foto: Foto: NHAC NGUYEN / AFP


A primeira onda de infecções pelo novo coronavírus ainda não terminou nos Estados Unidos, mas especialistas advertem que uma segunda onda atingirá o país se o retorno à normalidade for muito rápido ou se acontecer a partir de maio, como espera o governo de Donald Trump.

O debate se assemelha ao que aconteceu na Europa, onde o governo espanhol autorizou, nesta segunda (13), a retomada parcial do trabalho, enquanto o presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou a prorrogação da quarentena obrigatória para depois de quarta-feira.

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A grande diferença é que o sistema federal americano é altamente descentralizado e concede plenos poderes aos governadores de seus 50 estados, mesmo se o presidente decidir coordenar uma estratégia nacional.

Até agora, Trump só emitiu recomendações de distanciamento social e teletrabalho até o fim de abril.

Trump disse que tinha "autoridade total" para retomar a atividade nos estados, mas antecipou que "uma decisão da minha parte, em conjunto com os governadores e o conselho dos demais será tomada logo!".

Dois grupos de governadores do leste dos Estados Unidos (incluindo Nova York) e do oeste (incluindo a Califórnia) não esperaram: anunciaram nesta segunda-feira que vão se coordenar para suspender as restrições. Mas não há indícios de que dezenas de outros governadores farão o mesmo.

Após meio milhão de casos identificados, o número de infectados no país parece se estabilizar. Mas, para o diretor dos Centros para o Controle de Enfermidades (CDC), Robert Redfield, isto não deveria levar a uma suspensão das regras de distanciamento social e trabalho remoto de uma hora para a outra. "A reabertura será um processo gradual, baseado em dados", disse esta manhã à rede de TV NBC.

O novo coronavírus não terá desaparecido após o fim do confinamento. A grande maioria da população continuará sujeita à infecção, até o desenvolvimento de uma vacina. O objetivo da primeira fase era evitar que muitas pessoas adoecessem ao mesmo tempo e os hospitais ficassem congestionados. Mas o vírus continuará circulando.

No verão boreal, a proporção de americanos infectados pode ser de 2% a 5%, disse no domingo à CBS Scott Gottlieb, ex-diretor da Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) e assessor informal de Donald Trump.

"Acordem, até 50% deste país será infectado!", alertou, nesta segunda, na rede de TV MSNBC Michael Osterholm, diretor do Centro de Pesquisas de Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota.

Autoridades planejam retomar lentamente a normalidade, enquanto monitoram um possível reinício da epidemia. Os projetos acadêmicos e de especialistas sobre como chegar a este estágio são abundantes, mas a Casa Branca ainda não formulou nenhum.

O presidente americano, Donald Trump, parecia, inclusive, incomodado com as declarações de um cientista que se tornou celebridade durante a pandemia, Anthony Fauci, diretor do Instituto de Doenças Infecciosas dos Estados Unidos e membro da célula de crise da presidência sobre o novo coronavírus.

O pesquisador assinalou na TV que o número de mortes poderia ter sido menor se o país tivesse reagido rapidamente. Trump, na defensiva, compartilhou, no domingo, uma mensagem com a hashtag #FireFauci.

A Casa Branca, no entanto, classificou, nesta segunda, de "ridículos" os rumores sobre o afastamento de Fauci. "O Dr. Fauci foi e continua sendo um assessor de confiança do presidente Trump", afirmou o porta-voz Hogan Gidley.

'No fim do começo'

Todas as indicações de especialistas apontam que deve ser feito um número maior de testes e deve haver mais formas de rastrear os casos positivos e seus contatos, bem como os hospitais devem contar com um número maior de leitos.

Os cientistas da Universidade Johns Hopkins estimam que o país vai precisar de 100.000 "rastreadores de casos", pagos ou voluntários. Mas nada está no lugar.

"Se abrirmos o país em 1º de maio, não há dúvida de que haverá um aumento" dos casos da doença, alertou na CBS Christopher Murray, diretor do Instituto de Avaliação e Medição de Saúde da Universidade Estadual de Washington. Talvez alguns estados possam começar em meados de maio. Outros, não, assinalou.

Gottlieb imagina que governadores e prefeitos vão poder autorizar as empresas a retomarem as atividades com metade de seus funcionários ou que continuem confinando maiores de 65 anos.

Andrew Cuomo disse que Nova York ampliaria gradualmente a lista de trabalhos essenciais quando o momento chegar.

Aconteça o que acontecer, não haverá uma manhã em que os jornais vão anunciar: 'Aleluia! Acabou', disse, ao pedir a seus eleitores que aceitem a ideia de que o vírus vai conviver com a população durante muito tempo, ainda que controlado, até que uma vacina esteja disponível.

Quanto aos testes, o ex-diretor do CDC, Tom Frieden, diz que muitos são "lixo" e que levará tempo para averiguar quais são bons.

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O que é coronavírus?

Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.

A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.

Como prevenir o coronavírus?

O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
  • Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
  • Evitar contato próximo com pessoas doentes.
  • Ficar em casa quando estiver doente.
  • Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
  • Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
  • Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (máscara cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).

Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.

Confira o passo a passo de como lavar as mãos de forma adequada

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