Grande peregrinação a Meca tem início com importantes restrições

Entre as novas medidas, está a quarentena antes e depois do ato religioso
AFP
Publicado em 29/07/2020 às 8:15
Peregrinação a Meca Foto: STR/AFP


Os fiéis muçulmanos selecionados para o hajj iniciaram nesta quarta-feira (29) a grande peregrinação a Meca, em um formato restrito devido à pandemia do novo coronavírus, que obriga os participantes a respeitarem uma quarentena antes e depois do ato religioso.

Em pequenos grupos, cada um com um guia, os fiéis começaram o ritual e deram sete voltas na Kabaa, a construção cúbica que fica no centro da Grande Mesquita de Meca, de acordo com imagens exibidas ao vivo por canais de televisão sauditas.

De máscara e respeitando o distanciamento, os peregrinos caminharam em fila ao redor da Kabaa, observados por policiais e por outros agentes oficiais.

Entre 1.000 e 10.000 peregrinos residentes no reino participam do hajj este ano, de acordo com as autoridades locais e a imprensa saudita, um número ínfimo em comparação com as 2,5 milhões de pessoas que compareceram ao ritual em 2019.

A peregrinação é um dos cinco pilares do islã, que todos os fiéis devem cumprir pelo menos uma vez na vida desde que tenham os recursos.

"Não temos preocupações relacionadas com a segurança este ano e devemos proteger os peregrinos dos perigos da pandemia", declarou o diretor de Segurança Pública, Khaled bin Qarar al-Harbi.

Os peregrinos foram submetidos a controles de saúde e colocados em quarentena quando chegaram a Meca no fim de semana. As bagagens dos participantes foram desinfetadas.

Alguns peregrinos afirmaram que receberam pulseiras eletrônicas para terem seu deslocamento monitorado.

Além disso, funcionários foram contratados para limpar as imediações da Kaaba, em direção da qual se orientam todos os fiéis do mundo para rezar.

Mas, devido à pandemia de COVID-19, este ano os peregrinos não poderão tocar na Kaaba, advertiram as autoridades, que instalaram clínicas móveis e posicionaram ambulâncias nas imediações.

Quase 70% dos peregrinos são residentes estrangeiros no reino, que registra 270.000 casos de infecção do novo coronavírus, uma das taxas mais elevadas do Oriente Médio.

Antes de chegar a Meca, os peregrinos foram submetidos a testes de diagnóstico e, depois da peregrinação, terão de respeitar outra quarentena.

Além disso, os fiéis receberam um kit com pedras esterilizadas para o ritual de apedrejamento de Satã, desinfetante, máscaras, um tapete de oração e uma veste branca, sem costuras, chamada "ihram", que devem usar durante os rituais, informou o Ministério do Hajj.

Processo transparente

Este ano, a imprensa estrangeira não foi autorizada a cobrir o evento, que tem alcance mundial.

A Arábia Saudita anunciou que apenas mil peregrinos residentes no país poderiam participar da peregrinação este ano. De acordo com a imprensa local, porém, o número pode chegar a 10.000.

A seleção foi objeto de críticas, mas o ministro do Hajj, Mohamed Benten, insistiu na transparência do processo e destacou que o critério determinante foi "a proteção da saúde" dos participantes.

"Não esperava ser abençoado entre milhões de muçulmanos", disse o peregrino Abdullah al-Kathiri, dos Emirados Árabes, que foi selecionado.

"É um sentimento indescritível (...) ainda mais por ser a minha primeira peregrinação", afirmou em um vídeo divulgado pelo Ministério saudita de Meios de Comunicação.

De acordo com o Ministério do Hajj, residentes estrangeiros, procedentes de 160 países, apresentaram solicitações pela Internet.

Apesar da pandemia, alguns fiéis consideram que a peregrinação será mais segura desta vez, sem as grandes multidões que, a cada ano, representam um pesadelo logístico e um grande risco de acidentes fatais.

De modo geral, cada peregrino desembolsa milhares de dólares, mas este ano o governo saudita cobre a maior parte dos gastos, incluindo alojamento e refeições, segundo várias fontes.

A pandemia pode ter um forte impacto econômico na Arábia Saudita, onde o turismo religioso gera a cada ano quase 12 bilhões de dólares.

A covid-19 provocou em março a suspensão da "umra", a "pequena peregrinação", que atrai dezenas de milhares de fiéis todos os meses.

As restrições ligadas à peregrinação deste ano devem aprofundar a crise econômica, de acordo com analistas. A Arábia Saudita enfrenta a forte queda nos preços do petróleo, provocada pela redução expressiva da demanda mundial, assim como as consequências da pandemia.


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