Um general admitiu que os Estados Unidos cometeram um "erro" ao lançar um ataque com drones contra supostos membros do grupo Estado Islâmico (EI) em Cabul, matando dez civis, inclusive crianças, durante os caóticos últimos dias da retirada americana do Afeganistão no mês passado.
O ataque, um desfecho macabro dos 20 anos de guerra dos Estados Unidos no Afeganistão, teve como alvo uma suposta operação do EI contra o aeroporto de Cabul, do qual a Inteligência americana tinha uma "certeza razoável", disse o chefe do Comando Central dos Estados Unidos, general Kenneth McKenzie.
"O ataque foi um erro trágico", disse McKenzie a jornalistas após uma investigação.
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, ofereceu suas "desculpas" aos familiares das vítimas do ataque.
"Ofereço minhas profundas condolências aos familiares dos falecidos", declarou Austin em um comunicado. "Pedimos desculpas e vamos nos esforçar para aprender com este erro horrível".
McKenzie disse que o governo está estudando a forma de indenizar as famílias dos mortos.
Um Toyota branco
O general afirmou que em 20 de agosto, as forças americanas rastrearam um Toyota branco durante oito horas após vê-lo em uma área de Cabul, onde os serviços de Inteligência acreditavam que o EI estava preparando ataques ao aeroporto.
"Selecionamos este carro com base em sua circulação em uma área conhecida de interesse para nós", disse McKenzie. "Está claro que nossa Inteligência se enganou com este Toyota branco em particular".
O ataque com drones matou dez pessoas, entre elas sete crianças, segundo McKenzie. Nenhuma delas estava vinculada com o EI.
McKenzie descreveu a operação como um "bombardeio em autodefesa" em meio à preocupação com um ataque ao aeroporto nos últimos dias da caótica retirada.
Em 26 de agosto, um terrorista suicida do EI matou dezenas de pessoas no aeroporto, incluindo 13 militares americanos.
Grandes multidões se concentravam ali clamando para entrar e embarcar em um dos últimos voos de evacuação do país.
"Havia mais de 60 vetores de ameaça claros com os quais estávamos lidando naquele momento", disse McKenzie.
As autoridades americanas acreditavam que o carro tinha sido carregado com explosivos. O jornal The New York Times noticiou que estava cheio de recipientes com água.
McKenzie disse que nenhum civil foi visto na área no momento em que o ataque foi autorizado.
Completamente inofensivas
Um dos mortos foi Ezmarai Ahmadi, um afegão que trabalhava para um grupo de assistência americano.
"Agora sabemos que não havia nenhuma conexão entre o senhor Ahmadi e o Estado Islâmico da Província do Khorosan", disse Austin.
Ele disse que as atividades de Ahmadi naquele dia eram "completamente inofensivas" e que o homem foi "uma vítima tão inocente quanto foram os outros assassinados tragicamente".
O irmão de Ahmadi, Aimal, disse à AFP que o veículo estava cheio de crianças que brincavam fazendo de conta que manobrar no estacionamento era uma aventura.
"O foguete chegou e atingiu o carro cheio de crianças dentro da nossa casa", disse. "Matou a todos".
"Meu irmão e seus quatro filhos morreram. Eu perdi minha filha caçula... Sobrinhos e sobrinhas", disse, inconsolável.
A AFP não pôde verificar de forma independente o relato de Aimal.
"Em nome dos homens e mulheres do Departamento da Defesa, ofereço minhas mais profundas condolências aos familiares sobreviventes dos assassinatos, inclusive ao senhor Ahmadi, e ao pessoal da Nutrition and Education International, empregadora do senhor Ahmadi", disse Austin.
Mais de 71.000 civis afegãos e paquistaneses morreram diretamente por causa da guerra lançada pelos Estados Unidos após os atentados de 11 de setembro de 2001, e as baixas aumentaram drasticamente depois que em 2017 o então presidente, Donald Trump, flexibilizou as regras de combate, segundo um estudo da Brown University, realizado em abril.