Congo Mirador deixou de ser um povoado flutuante e se afogou na lama. A pequena cidade do estado de Zulia, no oeste da Venezuela, sucumbiu aos sedimentos arrastados pelo rio Catatumbo que nasce na Colômbia e deságua no lago Maracaibo, um dos mais extensos da América do Sul.
Com o canal natural alterado para irrigar fazendas, o rio foi arrastando plantas aquáticas e lama até cobrir a cidade.
"A região do Congo era tão bonita e terminou em estado de abandono. A escola também acabou, tudo acabou e não há nada lá, na cidade de Congo", diz Nerio Romero, guia turístico.
Antes, o barulho dos barcos de pesca era ouvido desde o amanhecer, mas hoje reina o silêncio.
Com a sedimentação, animais como cobras e sapos chegaram às palafitas, casas que no passado ficavam acima do nível da água.
Com as estruturas locais destruídas e sem poder pescar, boa parte das 700 pessoas que vieram morar aqui teve que migrar para outras áreas.
"Estou muito triste por sair da minha cidade, porque minha cidade para mim era uma bênção de Deus. Estou agora em Encontrados, que fica no sudoeste do estado de Zulia, mas não é o mesmo de estar em Congo, não é o mesmo que viver em Congo", afirma Neusa Camarillo, ex-moradora de Congo Mirador.
Além da sedimentação, os que ficaram enfrentam muita dificuldade: falta gasolina, os dois geradores a diesel que abasteciam a cidade com energia elétrica estão danificados há anos, a antena que fornecia sinal telefônico também não funciona, e a comida é limitada.
"Não temos um litro de gasolina. Aqui guardamos um pouco de combustível para alguma emergência. É muito sofrimento. Deus me livre. A gente está ferrado – sinto em dizer isso de forma grosseira. Morremos aqui porque não há solução", relata Euclides Villasmil, pescador.
Grande parte da pesca é usada para pagar o combustível. Por exemplo, se pegam 200 quilos de peixes, devem investir 100 para comprar cerca de 20 litros de gasolina.
Apesar de tudo, alguns habitantes de Congo Mirador se recusam a deixar suas casas e trabalhar com as próprias mãos para escavar e limpar a cidade.