PANDEMIA

Europa se fecha para evitar variante omicron do coronavírus, detectada na África do Sul

O primeiro país a se blindar foi o Reino Unido, que anunciou na quinta-feira (25) a proibição de entrada de pessoas procedentes de seis países da África

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AFP

Publicado em 26/11/2021 às 19:19 | Atualizado em 26/11/2021 às 22:18
RESTRIÇÃO Apesar de o presidente Bolsonaro ter afirmado que não haveria veto, governo restringiu voos a seis países da África - ILUSTRATIVA/MICHELE SPATARI / AFP

Uma nova variante do coronavírus detectada na África do Sul, batizada de "omicron" e aparentemente muito contagiosa, fez com que vários países europeus decidissem nesta sexta-feira (26) fechar as portas aos viajantes procedentes de vários estados do sul da África, horas antes do primeiro caso ser detectado na Bélgica.

O primeiro país a se blindar foi o Reino Unido, que anunciou na quinta-feira (25) a proibição de entrada de pessoas procedentes de seis países da África: África do Sul, Namíbia, Lesoto, Zimbábue, Botsuana e Eswatini (ex-Suazilândia) a partir de hoje.

Outros países seguiram o exemplo britânico, incluindo França, Itália, Holanda, Rússia e Suíça, que proibiram os voos oriundos da África do Sul e de países vizinhos.

Na tarde desta sexta-feira, a União Europeia recomendou a imposição de restrições a todos os viajantes vindos da África do Sul e de seis países da África Austral.

Por outro lado, a Organização Mundial da Saúde (OMS), que batizou a nova variante de "omicron" e a classificou como "preocupante", lembrou nesta sexta-feira que desaconselhava "colocar em prática medidas restritivas aos viajantes".

Os Estados Unidos afirmaram que irão esperar ter em mãos mais dados científicos sobre a nova variante para tomar uma "decisão prudente" sobre a eventual limitação de voos.

Enquanto isso, o ministro da Saúde da África do Sul, Joe Phaahla, denunciou a decisão "injustificada" de vários países de proibir a entrada de viajantes oriundos do sul da África.

Queda das bolsas

O coronavírus provocou mais de 5,16 milhões de mortes em todo o mundo desde sua detecção na China no final de 2019, embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) considere que os números reais podem ser muito maiores.

Para o governo sul-africano, as proibições às viagens são uma verdadeira tragédia, já que entrariam em vigor antes do verão austral, quando os safáris e os hotéis atraem um grande número de visitantes e turistas.

"Nossa preocupação imediata é o prejuízo que esta decisão causará na indústria do turismo e nas empresas", explicou o ministro sul-africano das Relações Exteriores, Naledi Pandor, em comunicado.

De visita à África do Sul, alguns visitantes internacionais optaram por refazer as malas rapidamente, como os membros da equipes europeias do United Rugby Championship e os golfistas que chegaram ao país para disputar o Aberto de Joanesburgo.

Maxine Mackintosh, uma britânica de 28 anos que chegou à África do Sul na quinta-feira, se preparava para desfrutar de suas primeiras férias "de verdade" desde a pandemia. "Depois do jantar, entendi que teria de partir imediatamente", disse à AFP, a caminho do aeroporto.

Os temores associados a esta nova variante fizeram com que os preços do petróleo despencassem e levassem a quedas acentuadas nas bolsas de valores ao redor do mundo.

Frankfurt teve queda de 4,15% no fechamento; Paris registrou sua pior sessão desde março de 2020, com queda de 4,75%; Londres teve o pior dia desde junho de 2020 (-3,64%). Mais cedo, Tóquio fechou em queda de 2,53%.

"Alto potencial de propagação" da variante omicron

A OMS anunciou nesta sexta-feira que serão necessárias "várias semanas" para haver um melhor intendimento do "impacto" da nova variante e para determinar sua virulência.

A variante B.1.1.529 tem um número "extremamente alto" de mutações e "podemos ver que tem um potencial muito alto de disseminação", disse o virologista brasileiro Túlio de Oliveira, baseado na África do Sul e diretor do KRISP, centro especializado no estudo do coronavírus.

Para a Agência Europeia de Medicamentos, é "prematuro" planejar a adaptação de vacinas à nova variante omicron.

A África do Sul registrou até agora 22 casos dessa variante, de acordo com o Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis. Casos também foram relatados na vizinha Botswana, Hong Kong e Israel.

No momento, os cientistas sul-africanos não têm certeza se as vacinas disponíveis atualmente são eficazes contra a nova variante.

Metamorfoses do vírus original podem torná-lo mais transmissível e até mesmo fazer com que a nova cepa seja a dominante no mundo.

"O que nos preocupa é que essa variante pode não ter apenas uma capacidade de transmissão maior, mas também pode ser capaz de contornar partes do nosso sistema imunológico", afirmou o professor Richard Lessells, outro pesquisador.

Cerca de 54% da população mundial recebeu pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19, mas em países de baixa renda essa proporção é de apenas 5,6%, segundo o portal Our World in Data. Na África do Sul, país mais afetado do continente africano, 23,8% da população está totalmente vacinada.

E na Namíbia, onde a vacinação avança muito lentamente, as autoridades podem em breve ser forçadas a destruir 270.000 doses do imunizante que estão prestes a expirar.


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