Os Estados Unidos acusaram nesta sexta-feira (14) a Rússia de criar uma operação "pretexto" para justificar uma invasão da Ucrânia, que assinará um acordo de cooperação cibernética com a Otan, após sofrer um ciberataque que deixou fora do ar o serviço de vários sites oficiais.
Após uma semana de conversas estéreis entre os Estados Unidos e seus aliados com Moscou, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, acusou a Rússia de preparar uma operação de sabotagem que poderia servir de "pretexto para uma invasão".
Segundo a acusação americana, Moscou teria "posicionado um grupo de agentes", "treinados em guerrilha urbana e uso de explosivos" no leste da Ucrânia para realizar ataques de falsa bandeira contra separatistas pró-russos.
O Kremlin refutou as acusações e declarou que são infundadas. "Não há nada que as confirme", reagiu seu porta-voz, Dmitri Peskov, citado pela agência TAS.
A troca de declarações ocorreu no mesmo dia em que um poderoso ciberataque tirou do ar os sites de vários ministérios ucranianos, como o das Relações Exteriores ou o de Situações de Emergência.
A ação não foi reivindicada, mas o porta-voz da diplomacia ucraniana, Oleg Nikolenko, assegurou que dispõe de "indícios preliminares" de que "poderia ser obra de grupos de hackers associados aos serviços secretos russos".
As autoridades ucranianas asseguraram que não houve danos importantes e que grande parte dos recursos tinham sido restabelecidos.
Após o ataque, a aliança militar transatlântica anunciou um acordo que será assinado "nos próximos dias" e que inclui "o acesso da Ucrânia à plataforma de troca de informação sobre malware da Otan", expressou seu secretário-geral, Jens Stoltenberg.
A União Europeia também prometeu mobilizar "todos os recursos" para ajudar seu aliado após o ciberataque.
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, considerou prematuro nesta sexta-feira "apontar o dedo para alguém", mas assegurou que era possível imaginar quem estava por trás do ataque.
Ataque "maciço"
O porta-voz da diplomacia ucraniana qualificou o ciberataque de "maciço" e antes que seu site fosse bloqueado, os autores publicaram uma mensagem ameaçadora em sua página inicial em ucraniano, russo e polonês.
"Ucranianos, tenham medo e se preparem para o pior. Todos os seus dados pessoais se tornaram públicos", dizia a mensagem, segundo um correspondente da AFP. A mensagem estava acompanhada de uma bandeira ucraniana riscada.
No entanto, os serviços secretos ucranianos (SBU) informaram que não foram vazados dados pessoais. Também destacaram que 70 sites foram afetados.
O ciberataque ocorre em um contexto de tensões crescentes com a Rússia, à qual Kiev e seus aliados acusam de planejar uma invasão da Ucrânia.
A Ucrânia foi alvo de ciberataques em várias oportunidades nos últimos anos, atribuídos à Rússia: o sofrido em 2017 contra várias infraestruturas e em 2015 contra sua rede elétrica.
Exercícios militares
Os países ocidentais acusam a Rússia de ter enviado tanques, artilharia e cerca de 100.000 soldados para a fronteira com a Ucrânia, o que a Otan considera uma preparação para uma invasão.
A embaixadora dos Estados Unidos na Otan, Julianne Smith, disse a jornalistas em Bruxelas que todos entendem que há "uma série de cenários que poderiam se desenvolver em relação ao que está ocorrendo entre Rússia e Ucrânia".
"E um deles é um ataque militar convencional em larga escala, e há outros níveis. Teremos que ver o que descobrimos hoje", acrescentou.
Esta semana foram celebrados vários encontros entre altos funcionários russos e representantes dos países ocidentais para tentar desmontar a crise com a Ucrânia, sem resultados.
Moscou voltou a assegurar que não tinha a "intenção" de invadir a vizinha Ucrânia e deu o tema por encerrado, destacando que não via motivos para retomar o diálogo.
Neste contexto, o Ministério da Defesa russo publicou nesta sexta-feira imagens de manobras militares com 2.500 soldados e uma centena de tanques a cerca de 50 km da fronteira ucraniana.
Nesta sexta, no entanto, o presidente ucraniano, Volodomir Zelenski, propôs uma reunião tripartite, possivelmente virtual, com seus colegas de Estados Unidos e Rússia para conter a crise, segundo um de seus assessores.
A Rússia invadiu e anexou a península ucraniana da Crimeia em 2014, depois de uma revolução pró-ocidental nesta antiga república soviética.
Moscou também é amplamente considerado o patrocinador militar e financeiro dos separatistas pró-russos, em guerra com as autoridades ucranianas no leste do país, um conflito que já deixou mais de 13.000 mortos.