A Rússia avaliou nesta segunda-feira (14) que há uma "possibilidade" de resolver a crise ucraniana graças ao diálogo com os países ocidentais, em um momento em que a diplomacia se intensifica, mas parece não dar frutos nesta crise, a pior desde a Guerra Fria.
Em um sinal de que a situação continua muito delicada, o Pentágono disse nesta segunda-feira (14) que a Rússia reforçou seu dispositivo militar nas fronteiras da Ucrânia no fim de semana, onde já há mais de 100 mil soldados concentrados há uma semana.
E com os temores de uma invasão da Ucrânia aumentando, o chanceler alemão Olaf Scholz exortou a Rússia a aproveitar as "ofertas de diálogo" para desarmar uma crise que evocou o fantasma da guerra na Europa.
Nesta segunda-feira, Scholz está visitando Kiev e na terça-feira planeja viajar para Moscou para se encontrar com Vladimir Putin.
Afastando-se das declarações ofensivas dos últimos dias, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, considerou nesta segunda-feira que "há uma possibilidade" de "resolver os problemas".
O caminho do diálogo "não se esgotou, mas também não pode durar indefinidamente", acrescentou Lavrov, enfatizando que a Rússia está pronta para "ouvir contrapropostas sérias".
Em outro sinal de desescalada, pouco depois, Serguei Shoigu, o ministro da Defesa russo, afirmou que os exercícios militares realizados ao lado de Belarus estavam "terminando".
"Alguns exercícios estão sendo realizados, uma parte está concluída, outra está terminando. E outros ainda estão em andamento devido a sua magnitude", disse Shoigu.
Trincheiras
A Rússia, que anexou a península da Crimeia em 2014 e apoia os separatistas armados pró-Moscou no leste da Ucrânia, nega qualquer intenção de invadir o país vizinho, mas vincula a desescalada a uma série de exigências, começando pela garantia de que a Otan não admitirá a Ucrânia como membro, algo que os países ocidentais consideram inaceitável.
"Acreditamos que a adesão à Otan garantiria nossa segurança e nossa integridade territorial", insistiu Zelensky nesta segunda-feira.
Os ocidentais consideram que os pedidos russos são inaceitáveis, mas propuseram aumentar o campo de diálogo e estendê-lo a outras questões, como o controle de armas.
Nesta segunda-feira, Lavrov considerou "construtivas" algumas das propostas feitas pelos Estados Unidos.
Enquanto ainda aguardam algum hipotético avanço no campo diplomático, no sudeste da Ucrânia, próximo à fronteira com os separatistas pró-Rússia, a população começou a se mobilizar caso ocorra um ataque.
"Estamos cavando trincheiras nas quais os soldados ucranianos podem pular facilmente e se defender", disse Mikhailo Anopa, de 15 anos, à AFP.
Ameaças de sanções
Já em Kiev não havia pânico. No entanto, Yuri Fedinski, músico de 46 anos, decidiu deixar o leste do país, rumo aos Estados Unidos, junto com sua esposa grávida e seus quatro filhos.
"Nós os levamos para aprender inglês em uma escola americana [...], uma alternativa ao que Putin deseja para a Ucrânia", disse ele à AFP no aeroporto de Kiev.
Durante sua viagem à capital ucraniana, Scholz, que não comentou as últimas declarações do governo russo, alertou Moscou.
"Ninguém deve duvidar da determinação e prontidão da UE" para reagir no caso de um ataque, disse ele.
"Tomaremos medidas de grande alcance que terão repercussões significativas nas possibilidades de desenvolvimento econômico da Rússia", alertou.
"É isso que vou destacar amanhã em Moscou."
Zelensky considerou que o controverso gasoduto russo-alemão Nord Stream 2, que permite contornar o território ucraniano para abastecer a Europa com gás russo, está sendo usado como uma "arma geopolítica".
"Grande erro"
Além disso, a Ucrânia pediu formalmente a Moscou que explique o envio de soldados a suas fronteiras, de acordo com os compromissos assumidos pela Rússia no âmbito da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que planeja realizar uma reunião na terça-feira.
Os Estados Unidos vêm enfatizando há dias que o exército russo pode invadir a Ucrânia "a qualquer momento" e muitos países pediram a seus cidadãos que deixem o território ucraniano.
Nesse sentido, Zelensky descreveu como um "grande erro" o fato de alguns países, como os Estados Unidos, terem decidido retirar suas embaixadas de Kiev.
Apesar das tensões, que se acentuaram na semana passada com o início das manobras militares da Rússia e Belarus, Kiev disse nesta segunda-feira que as negociações com Minsk estão sendo "positivas".
Em uma conversa telefônica na noite de domingo, o presidente dos EUA, Joe Biden, e o ucraniano, Volodimir Zelensky, "concordaram sobre a importância de continuar no caminho da diplomacia e da dissuasão".