Os Estados Unidos multiplicaram nesta quinta-feira (17) suas advertências sobre uma iminente invasão russa da Ucrânia, apesar das negações e dos anúncios de Moscou de que já começou a retirar seus soldados da fronteira com a ex-república soviética.
A ameaça de uma invasão é "muito alta, porque não retiraram nenhuma de suas tropas. Mobilizaram mais tropas" para essa região, disse o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, à imprensa na Casa Branca.
"Todos os indícios que temos é que estão preparados para entrar na Ucrânia, atacar a Ucrânia", acrescentou Biden, acusando o governo russo de inventar uma "operação de pretexto para ter uma desculpa para entrar".
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"Minha percepção é que isso acontecerá nos próximos dias", afirmou.
O secretário americano de Estado, Antony Blinken, pediu ao governo de Vladimir Putin para "abandonar o caminho da guerra" e exigiu uma declaração formal e oficial de que não tem nenhuma intenção de atacar seu vizinho.
Nas Nações Unidas, onde o Conselho de Segurança deve celebrar uma reunião de crise, a enviada dos Estados Unidos afirmou que Washington quer deixar claro que o risco de guerra na Europa está aumentando.
"Nosso objetivo é transmitir a gravidade da situação", porque "este é um momento crucial", declarou Linda Thomas-Greenfield antes da reunião.
"Obrigada a agir"
A Rússia respondeu às propostas apresentadas pelos Estados Unidos sobre a segurança na Europa, insistindo que não planeja nenhuma invasão e lamentando que suas exigências principais continuam ignoradas.
"Se não há disposição por parte dos Estados Unidos de nos entender sobre as garantias jurídicas para nossa segurança (...), a Rússia será obrigada a agir, especialmente aplicando medidas de caráter militar e técnico", afirmou o Ministério das Relações Exteriores russo em sua resposta.
Além disso, voltou a exigir "a retirada de todas as forças e armamento dos Estados Unidos mobilizadas na Europa Central e Oriental, na Europa do Sudeste e nos Países Bálticos".
A Rússia expulsou o número 2 da embaixada dos Estados Unidos em Moscou, informou o Departamento de Estado.
A Ucrânia trava desde 2014 uma guerra contra os separatistas pró-russos no leste do país, nas regiões de Donetsk e Lugansk. Um conflito que custou centenas de vidas.
O exército ucraniano acusou nesta quinta-feira os rebeldes de terem violado o cessar-fogo 34 vezes, das quais em 28 teriam usado armas pesadas.
Segundo as forças armadas ucranianas, dois soldados ucranianos e cinco civis ficaram feridos, incluindo três adultos no ataque a um jardim de infância da cidade de Stanytsia-Luganska. Havia crianças dentro da escola.
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, tuitou que "o bombardeio contra um jardim de infância (...) pelas forças pró-russas foi uma grande provocação".
No entanto, as autoridades da região de Lugansk, citadas pelas agências de notícias russas, acusaram Kiev pelos bombardeios.
Até o momento, não há registro de mortes.
A subsecretária-geral da ONU, Rosemary DiCarlo, pediu às partes para mostrar "máxima moderação".
Escalada "preocupante"
Os Estados Unidos alegam que Moscou busca um pretexto para atacar a Ucrânia, enquanto nesta semana o presidente russo Vladimir Putin acusou Kiev de estar cometendo um "genocídio" no Donbas.
O secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, classificou os relatos desta quinta-feira como "preocupantes".
"Já dissemos que os russos poderiam fazer algo como isso para justificar um conflito militar. Então vamos observar isso de muito perto", disse Austin após uma reunião em Bruxelas com os ministros da Defesa da Otan.
"Os relatos sobre uma atividade militar ucraniana incomum (na região do) Donbass são uma tentativa descarada do governo russo de fabricar pretextos para uma invasão", tuitou a ministra britânica das Relações Exteriores, Liz Truss, que visitou Kiev nesta quinta-feira.
Os países ocidentais afirmam que a Rússia concentrou mais de 100.000 soldados perto da fronteira com a Ucrânia, diante de uma possível invasão.
Nesta quinta-feira, o Ministério da Defesa russo afirmou que estava retirando mais unidades da Crimeia e divulgou imagens de um trem militar com caminhões chegando à Rússia continental através da ponte que cruza o Estreito de Kerch.
Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, este processo de retirada levará "tempo".
Mas os ocidentais duvidam das intenções da Rússia e continuam suspeitando que pretende atacar a Ucrânia.
Uma fonte anônima da Casa Branca chegou inclusive a acusar Moscou de ter aumentado suas tropas na fronteira ucraniana com até 7.000 soldados.
O governo russo afirma que deseja negociar, mas lamenta que os ocidentais tenham rejeitado suas principais exigências: o fim da política de expansão da Otan e a proibição de uma eventual adesão da Ucrânia; o compromisso de não instalar armas de ataque perto do território russo e a retirada de suas infraestruturas do leste da Europa.
O presidente ucraniano Volodimir Zelensky afirmou nesta quinta-feira que seu país não precisa de apoio militar externo.
"Não precisamos de militares de bandeira estrangeira em nosso território", afirmou em uma entrevista ao portal RBK-Ukraina, acrescentando que não quer "dar mais um motivo" para a Rússia intervir.