Atualizada às 21h50
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, afirmou que o exército da Rússia prepara uma ofensiva final para tomar Kiev, a capital, durante a madrugada deste sábado (26).
"Não podemos perder a capital. Falo com nossos defensores, homens e mulheres em todas as frentes: o inimigo vai usar todas as suas forças para romper nossas defesas da maneira mais vil, dura e desumana. Vão tentar um ataque", afirmou Zelensky em um vídeo postado no site presidencial.
"Hoje foi um dia difícil, mas com coragem. Lutamos pelo nosso Estado em todas as frentes, no sul, leste, norte e em muitas cidades do nosso belo país", acrescentou.
As tropas invasoras lançadas na quinta-feira pelo presidente russo, Vladimir Putin, chegaram a um bairro ao norte de Kiev na manhã desta sexta-feira. O avanço, porém, pareceu desacelerar durante o dia.
O secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg, elogiou a mobilização das forças ucranianas, "que lutam com coragem e mantêm sua capacidade de causar perdas às forças invasoras russas".
A ofensiva russa provocou a fuga de mais de 50.000 ucranianos do país, assim como 100.000 deslocados internos - segundo a ONU - e mais de 100 mortos, de acordo com Kiev.
Vladimir Putin exortou o exército ucraniano a "tomar o poder" e chamou o governo Zelensky de "gangue de viciados em drogas e neonazistas".
Zelensky respondeu com a divulgação de um vídeo gravado em frente ao palácio presidencial. "Estamos todos aqui, nossos militares estão aqui, os cidadãos, a sociedade, estamos todos aqui, defendendo a nossa independência, o nosso Estado", proclamou, ao lado de seus principais colaboradores.
O Ministério da Defesa ucraniano chamou a população a resistir.
"Pedimos aos cidadãos que nos informem dos movimentos de tropas, que fabriquem coquetéis Molotov e neutralizem o inimigo", pediu.
Enquanto isso, os países ocidentais adotaram uma série de sanções contra entidades, empresas e autoridades russas, entre elas Putin, em resposta à invasão.
Zelensky contou que conversou com o presidente americano, Joe Biden, sobre o "reforço das sanções, de uma assistência de defesa concreta e de uma coalizão antiaérea", além de manifestar seu "agradecimento" pelo "forte" apoio americano.
Diplomacia travada
Contudo, a diplomacia segue travada.
No Conselho de Segurança da ONU, a Rússia vetou uma resolução promovida pelos Estados Unidos e pela Albânia para deplorar a "agressão" contra a Ucrânia.
A porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, disse que as relações entre Moscou e as potências ocidentais estão se aproximando de um "ponto de não retorno".
"Não foi nossa opção. Queríamos o diálogo, mas os anglo-saxões fecharam essas opções uma atrás da outra e começaram a agir de forma diferente", acusou.
Segundo Zakharova, as sanções contra Putin e seu ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, mostram a "impotência" dos países ocidentais.
Putin disse estar disposto a enviar uma delegação a Minsk, capital de Belarus, para negociar com a Ucrânia.
O porta-voz da diplomacia americana, Ned Price, descreveu esta proposta como uma "diplomacia realizada sob a mira de armas, quando bombas, morteiros e artilharia de Moscou atingem civis ucranianos".
A Otan anunciou que ativará seus planos de defesa para reforçar seu flanco oriental.
A Rússia exige que a Ucrânia abandone sua ambição de aderir à Otan e pede que a aliança militar liderada pelos EUA reduza a sua presença no Leste Europeu.
Sanções em todos os âmbitos
Após a ofensiva, a União Europeia (UE) desbloqueou um pacote de sanções "maciças" nos setores de energia e financeiro.
O próprio Putin e seu chanceler, Sergei Lavrov, foram incluídos hoje na lista de personalidades sancionadas, com ativos congelados, por União Europeia, Reino Unido e Canadá, enquanto os Estados Unidos anunciaram que tomariam medidas semelhantes.
Zelensky pediu ao Ocidente que expulsasse a Rússia do sistema de transferências bancárias Swift, mas alguns países da União Europeia, como Alemanha e Hungria, manifestaram suas dúvidas, pelo temor de que essa medida pudesse provocar problemas na entrega de gás russo.
Outra retaliação veio da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que rejeitou o processo de adesão da Rússia e fechou seu escritório em Moscou.
A resposta à invasão também chegou ao esporte e ao mundo da cultura. A Uefa retirou São Petersburgo como sede da final da Liga dos Campeões, que será disputada agora em Paris. Além disso, a organização da Fórmula 1 cancelou a realização do Grande Prêmio da Rússia, que fazia parte do calendário de 2022 da categoria.
O Eurovision, popular concurso musical disputado por representantes de diferentes países do continente, anunciou que fecharia suas portas a concorrentes do país invasor.
O Papa Francisco, por sua vez, reuniu-se com o embaixador russo no Vaticano para manifestar "sua preocupação". Em um tuíte, publicado em vários idiomas, entre eles o russo, afirmou que "toda guerra é uma rendição vergonhosa".
Corpos nas ruas da Ucrânia
Ao amanhecer desta sexta-feira, era possível ouvir disparos e explosões no bairro residencial de Oblon, norte de Kiev, provocados pelo que parecia um regimento avançado das forças russas.
Jornalistas da AFP viram um corpo na calçada e ambulâncias socorrendo uma pessoa que teve o carro "atropelado" por um veículo blindado.
Durante o dia, as sirenes e explosões não deixaram de soar em Kiev, cidade que, após a fuga de muitos moradores, apresenta um aspecto fantasmagórico. Veículos blindados e soldados patrulhavam os cruzamentos em torno do distrito onde ficam os edifícios do governo.
As forças ucranianas informaram nesta sexta-feira que combatiam unidades russas em Dymer e Ivankiv, localidades situadas 40 e 80 quilômetros ao norte de Kiev, respectivamente. Os russos estariam avançando também pelo nordeste e leste, segundo a mesma fonte.