Atualizada às 19h19
A Rússia anunciou nesta segunda-feira (7) tréguas locais em cinco cidades da Ucrânia a partir desta terça (8) para permitir a evacuação de civis, após uma nova rodada de negociações para encontrar uma saída para o conflito.
"A Federação Russa anuncia um cessar-fogo a partir das 10h, horário de Moscou (04h00 de Brasília) de 8 de março" para a evacuação de civis de Kiev, bem como das cidades de Sumy, Kharkiv, Chernigov e Mariupol, informou a célula do Ministério da Defesa russo responsável pelas operações humanitárias na Ucrânia, em comunicado divulgado por agências de notícias russas.
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Em discurso na televisão por ocasião das festividades de 8 de março, Putin também anunciou que não enviará recrutas ou reservistas para lutar na Ucrânia e garantiu que a guerra naquele país estava sendo travada por "profissionais" que cumprem "objetivos estabelecidos".
Horas antes do anúncio russo, a Ucrânia havia destacado alguns "resultados positivos" nas conversas sobre a implementação de corredores humanitários, embora Moscou tenha dito que as "expectativas" não foram atendidas.
O exército russo anunciou mais cedo a suspensão temporária dos ataques em algumas regiões "com fins humanitários" e a abertura de corredores para retirar os civis de Kiev, Kharkiv, do porto cercado de Mariupol e da localidade de Sumy, perto da fronteira com a Rússia.
Metade dos corredores, porém, segue em direção à Rússia e Belarus, e o governo ucraniano rejeitou a proposta. "Não é uma opção aceitável", disse a vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereschuk.
Por sua vez, o representante russo nas negociações acusou a Ucrânia de impedir a evacuação de civis das zonas de combate e de "usar [civis] direta e indiretamente até mesmo como escudos humanos, o que é claramente um crime de guerra".
"Corredores seguros"
Sobre o terreno, a situação não para de piorar. Ao menos 13 pessoas morreram em um bombardeio contra uma padaria industrial em Makariv, a cerca de 50 km de Kiev.
Além disso, a situação humanitária se agrava a cada dia, com várias cidades assediadas sofrendo com a escassez de produtos básicos, como alimentos, eletricidade e água.
Para levar ajuda humanitária às zonas de combate, a ONU "precisa de corredores seguros", declarou o subsecretário-geral para Assuntos Humanitários da entidade, Martin Griffiths, ao Conselho de Segurança.
A ofensiva russa, iniciada em 24 de fevereiro, provocou a fuga de mais de 1,7 milhão de pessoas da Ucrânia e um número ainda maior de habitantes estão deslocados dentro do país ou bloqueados em cidades bombardeadas pela Rússia.
O agravamento do conflito também provoca turbulências financeiras e o aumento vertiginoso dos preços do petróleo e do ouro.
O presidente russo, Vladimir Putin, estabeleceu como condição preliminar para a resolução do conflito que Kiev aceitasse todas as exigências de Moscou, especialmente a desmilitarização da Ucrânia e o estabelecimento do status de neutralidade no país.
O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou nesta segunda-feira que não acreditava ser possível negociar uma "solução real" entre Moscou e Kiev e que o conflito continuará, pelo menos a curto prazo.
'Tudo ficará bem'
Na capital Kiev, os soldados ucranianos foram vistos se preparando para um possível ataque russo.
"A capital se prepara para se defender", disse o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, no aplicativo Telegram. "Kiev resistirá! Vai se defender!", acrescentou.
A cidade portuária de Odessa, às margens do Mar Negro, também está cada vez mais ameaçada. Muitas famílias deixaram seus parentes mais idosos, que estão fracos demais para fugir da cidade, e a seus animais domésticos no convento Archangelo-Mikhailovsky, conforme constatou a AFP.
"Infelizmente não poderemos receber todo o mundo, e também temos problemas de dinheiro", comentou a responsável do convento de cúpulas douradas, Madre Serafina.
Em Irpin, uma pequena cidade nos arredores de Kiev parcialmente controlada pelas forças russas, um corredor humanitário não oficial foi aberto para que milhares de moradores pudessem fugir por uma ponte improvisada e por uma estrada guardada por soldados e voluntários ucranianos.
Crianças, idosos e famílias se apressavam para entrar em ônibus e vans lotadas, na esperança de sobreviver.
"Estou feliz por ter conseguido, agora tudo ficará bem", disse Olga, de 48 anos, que foi retirada com seus dois cães.
Segundo o ministro da Educação, Sergii Shkarlet, 211 escolas foram atingidas pelo bombardeio.
"Consequências catastróficas"
Em resposta à ofensiva, os países ocidentais impuseram sanções sem precedentes contra empresas, bancos e oligarcas russos.
Os líderes dos Estados Unidos, França, Alemanha e Reino Unido "afirmaram sua determinação de continuar a aumentar os custos para a Rússia da invasão não provocada e injustificada da Ucrânia", declarou o governo americano após uma videoconferência nesta segunda-feira.
Aliados ocidentais mantiveram uma frente unida nas sanções contra a Rússia pela invasão da Ucrânia, mas surgiram na segunda-feira rachaduras sobre a perspectiva de um embargo às importações russas de petróleo e gás, uma medida à qual se apõe a Alemanha, que depende do combustível russo.
Tal embargo teria "consequências catastróficas para o mercado mundial", reagiu o vice-primeiro-ministro russo de Energia, Alexander Novak, dizendo que "o aumento de preço pode ser imprevisível e chegar a mais de US$ 300 por barril".
No entanto, o presidente dos EUA, Joe Biden, "ainda não tomou uma decisão" sobre um eventual embargo russo de petróleo e gás, disse sua porta-voz, Jen Psaki, nesta segunda-feira.
O agravamento do conflito e a perspectiva de novas sanções fizeram os preços do petróleo dispararem. Um barril de Brent do Mar do Norte chegou perto dos 140 dólares, quase um recorde.
Em resposta às sanções internacionais, o governo russo estabeleceu uma lista de países "hostis" a Moscou, aos quais indivíduos e empresas poderão pagar suas dívidas em rublos, moeda que perdeu 45% de seu valor desde janeiro.