Atualizada às 15h53
"Ser o líder do mundo é ser o líder da paz": falando em inglês diante do Congresso americano, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, interpelou Joe Biden diretamente, nesta quarta-feira (16), voltando a pedir a imposição de uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia. Zelensky também comparou a invasão a seu país com os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
"Você é o líder de uma nação, da sua grande nação. Espero que você seja o líder do mundo. Ser o líder do mundo é ser o líder da paz", declarou Zelensky, em um discurso transmitido por vídeo ao Congresso dos Estados Unidos e aos canais de notícias dos Estados Unidos.
O presidente Biden, que se recusa a impor essa zona de exclusão aérea, confirmou pouco depois uma ajuda militar adicional de 800 milhões de dólares à Ucrânia, compondo assim um pacote "sem precedentes" de 1 bilhão em uma semana para auxiliar o exército ucraniano a se defender das tropas russas.
"A pedido" do presidente Zelensky, "estamos ajudando a Ucrânia a adquirir sistemas de defesa antiaérea adicionais e de longo alcance", disse, especificando que a ajuda incluirá drones.
Pearl Harbor, 11 de setembro
Volodymyr Zelensky falou pela primeira vez perante o Congresso americano, após uma iniciativa semelhante nos parlamentos britânico e canadense.
Em um apelo por vezes apaixonado, o presidente ucraniano implorou aos Estados Unidos e a seus aliados ocidentais que façam mais para salvar seu país da invasão russa, lembrando-os das horas mais sombrias de sua História.
"Em sua grande História, vocês têm páginas que permitem que entendam os ucranianos", disse ele às autoridades eleitas americanas.
"Lembrem-se de Pearl Harbor, naquela terrível manhã de 7 de dezembro de 1941, quando seu céu foi escurecido pelos aviões que os atacavam", "lembrem-se do 11 de setembro, aquele terrível dia de 2001", acrescentou.
"A Europa não experimenta esse terror há 80 anos", frisou.
"Eu tenho um sonho"
Referindo-se ao destino de "mais de 100" crianças ucranianas, "cujos corações não batem mais" por causa da guerra, o líder de 44 anos assegurou que não vê "sentido na vida, se não puder parar a morte".
Zelensky também retomou o famoso discurso "I have a dream" ("Eu tenho um sonho", em tradução livre), de Martin Luther King, dizendo: "Eu tenho um sonho, essas palavras são conhecidas por todos vocês. Hoje, posso dizer, tenho uma necessidade, a necessidade de proteger nossos céus. Eu preciso da decisão de vocês, da ajuda de vocês".
"É pedir demais criar uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, para salvar as pessoas? É pedir demais uma zona de exclusão aérea humanitária?", perguntou, antes de projetar um vídeo de seu país sob as bombas.
Ao final do vídeo, a frase: "Fechem o céu sobre a Ucrânia".
O presidente democrata do poderoso comitê de inteligência do Senado, Mark Warner, afirmou estar "incrivelmente comovido" com o discurso do líder ucraniano, mas não respaldou uma possível zona de exclusão aérea.
Por outro lado, muitos congressistas apoiam os apelos de Zelensky para que Washington ajude a negociar o envio de armas de estilo soviético à Ucrânia, incluindo os caças MiG da Polônia e sistemas de mísseis terra-ar S-300.
Zelensky foi aplaudido de pé por todos os membros eleitos do Congresso, que receberam broches azuis e amarelos, as cores da bandeira ucraniana.
Sentada na segunda fila e cercada pelos principais nomes do Congresso, a embaixadora ucraniana nos Estados Unidos, Oksana Markarova, também foi aplaudida de pé.
"Slava Ukraini", "Glória à Ucrânia", lançou a presidente da Câmara de Representante, a democrata Nancy Pelosi.