Da AFP
Dois manifestantes morreram nesta segunda-feira (12) durante os protestos no Peru, que reivindicam a renúncia da recém-empossada presidente Dina Boluarte, elevando a quatro o total de falecidos nas últimas 36 horas, apesar da proposta da mandatária de antecipar as eleições para abril de 2024.
Um dos óbitos desta segunda foi registrado em Arequipa, segunda maior cidade do país, durante ação da polícia para liberar a pista de pouso do aeroporto local, ocupada por cerca de 1.500 manifestantes.
A outra morte ocorreu durante uma marcha repelida pela tropa de choque da polícia em Chincheros, na região de Apurímac, de onde Boluarte é originária.
"Efetivamente são três [mortos] em Apurímac e um em Arequipa", disse à AFP a Defensora do Povo, Eliana Revollar, ao confirmar o balanço de quatro mortos desde o domingo.
Em Chincheros, os manifestantes conseguiram incendiar a sede do Ministério Público e uma delegacia.
Uma batalha campal ocorreu no aeroporto de Arequipa, quando a polícia dispersou os manifestantes que bloquearam a pista de pouso com pedras, paus e pneus em chamas, constatou um fotógrafo da AFP no local.
A polícia os enfrentou com bombas de gás lacrimogêneo e retomou o controle da pista depois de três horas, acrescentou.
Castillo está preso por ordem de um juiz após sua frustrada tentativa de autogolpe de Estado, na quarta-feira, e posterior destituição pelo Congresso. Ele foi substituído na Presidência por sua vice, Dina Boluarte.
Os manifestantes, alguns usando chapéus e roupas tradicionais, queimaram cabines de segurança e a iluminação da pista de pouso foi destruída. O aeroporto continua fechado, com dezenas de passageiros bloqueados.
Também em Arequipa, uma das maiores fábricas de laticínios do país foi ocupada por manifestantes, segundo imagens exibidas pela TV.
O anúncio da presidente Dina de que irá apresentar ao Congresso um projeto de lei para antecipar as eleições de 2026 para 2024 não acalmou os manifestantes, que exigem a libertação de Castillo, o fechamento do Parlamento e novas eleições já.
Em uma tentativa de conter a onda de manifestações, o governo afastou nesta segunda os 26 prefeitos regionais do país, nomeados pelo governo Castillo, sob o argumento de que eles "incitam os protestos".
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Enquanto isso, o escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos declarou-se "profundamente preocupado com a possibilidade de escalada da violência".
"Dado o número de protestos, incluindo greves, planejados para esta semana, pedimos a todos os envolvidos que exerçam a moderação", informou em nota emitida em Genebra.
Após informar que tentará "alcançar um acordo com o Congresso" para antecipar as eleições para abril de 2024, a presidente Boluarte decretou estado de emergência nas áreas onde são registrados protestos violentos.
As manifestações crescem desde o domingo em várias cidades do norte e do sul.
Na cidade andina de Andahuaylas, ao sul, o Ministério do Interior informou que duas pessoas morreram e 20 ficaram feridas, entre elas um policial, após confrontos ocorridos ontem durante a ocupação do aeroporto por manifestantes pró-Castillo. Segundo o escritório da ONU para os direitos humanos, que pediu às autoridades uma investigação, os mortos tinham 15 e 18 anos.
A sede da delegacia de Huancanamba, cidade situada em Apurímac, foi incendiada, reportou a rádio RPP.
Milhares de pessoas se mobilizaram neste fim de semana em Cajamarca, Arequipa, Tacna, Andahuaylas, Huancayo, Cusco e Puno, segundo a imprensa.
Lima, a capital do país, sempre deu as costas a Castillo, um professor rural e líder sindical que não tinha contato com as elites peruanas, enquanto as regiões andinas se identificaram com ele desde as eleições de 2021.
Enquanto isso, sindicatos rurais e organizações camponesas e indígenas ressoam os tambores, anunciando "uma greve por tempo indeterminado" a partir desta terça-feira, somando-se aos pedidos de fechamento do Congresso, antecipação das eleições e de elaboração de uma nova Constituição, segundo um comunicado da Frente Agrária e Rural do Peru.
O coletivo, que reúne uma dúzia de organizações, pede, ainda, a "liberdade imediata" de Castillo. Segundo a Frente Agrária, ele "não praticou nenhum golpe de Estado".
Controlado pela direita, o Congresso aprovou uma norma que permite acelerar um julgamento penal contra Castillo.
O ex-presidente foi detido por sua própria equipe de segurança na quarta-feira, quando se dirigia à embaixada do México para pedir asilo político. O Ministério Público o acusa de rebelião e conspiração. Ele já era investigado por corrupção.
Nesta segunda, as atenções se concentravam na reação do Congresso à proposta de eleições gerais antecipadas, pois também implica a redução do mandato dos legisladores em dois anos.
Para reduzir mandatos populares, como o presidencial e o legislativo, é preciso fazer isso em duas legislaturas consecutivas. Este processo pode durar até um ano, conforme a lei peruana. E, para convocar eleições antecipadas, é necessária uma reforma constitucional.
Dina Boluarte formou um governo com perfil independente e técnico, que tem o ex-procurador Pedro Angulo como primeiro-ministro.
A demanda por novas eleições está associada a uma rejeição esmagadora do Congresso. De acordo com as pesquisas de opinião de novembro, 86% dos peruanos desaprovam o Parlamento.