Da Estadão Conteúdo
A Rússia alertou ontem que se o governo americano confirmar o envio do sofisticado sistema de defesa aérea Patriot à Ucrânia seria "outro movimento provocativo dos EUA" e poderia levar a uma resposta de Moscou.
A porta-voz do ministério russo das Relações Exteriores, Maria Zakharova, disse que "os EUA se tornarão efetivamente uma parte" na guerra na Ucrânia e estarão sujeitos a "respostas à altura". O alerta foi feito um dia após os relatos de que os EUA enviarão a Kiev mísseis terra-ar Patriot, os mais avançados que o Ocidente já forneceu, para ajudar os militares da Ucrânia a repelir ataques aéreos russos.
Zakharova acrescentou que a crescente assistência militar dos EUA, que inclui a transferência de tais armas sofisticadas, "significaria um envolvimento ainda mais amplo nas hostilidades e poderia acarretar possíveis consequências". Ela não especificou quais seriam as consequências, mas o presidente russo, Vladimir Putin, falou na quarta-feira sobre "ataques preventivos" como os realizados pelos EUA em outros conflitos.
Complexidade
Autoridades dos EUA disseram que Washington deve aprovar na semana que vem o envio de uma bateria de mísseis Patriot para a Ucrânia. O sistema de mísseis necessita de até 90 soldados para operá-lo e mantê-lo, e por meses os EUA relutaram em fornecer o complexo sistema. Enviar militares para a Ucrânia para operar a bateria Patriot é algo que não pode ser feito pelo governo do presidente Joe Biden, pois seria um envolvimento direto na guerra e poderia justificar ataques russos até contra países da Otan.
Mas permanecem as preocupações de que apenas o uso do sistema de defesa possa provocar uma resposta da Rússia ou que um projétil acabe atingindo o território russo, aumentando ainda mais o conflito.
Mesmo antes dos relatórios sobre a entrega do sistema Patriot, o vice-chefe do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitri Medvedev, alertou que se os mísseis Patriots entrarem na Ucrânia "com o pessoal da Otan, eles se tornarão imediatamente um alvo legítimo para nossas Forças Armadas".
Os líderes da Casa Branca e do Pentágono disseram que fornecer à Ucrânia defesas aéreas adicionais é uma prioridade em meio à intensificação dos ataques russos à infraestrutura ucraniana.
Temores
Comandantes militares ucranianos têm expressado cada vez mais preocupação com uma nova ofensiva em larga escala da Rússia contra Kiev e territórios recuperados durante a contraofensiva iniciada em meados de setembro.
Em entrevista à revista britânica The Economist, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, e o general Valeri Zaluzhni, comandante das Forças Armadas, disseram estar convencidos de que a Rússia está preparando outra grande ofensiva em janeiro e todas as movimentações ucranianas neste período que antecede a nova incursão russa será fundamental para definir o futuro da guerra.