O vídeo em que cinco policiais negros aparecem espancando um jovem afro-americano, que acabou morrendo devido aos ferimentos causados na agressão, provocou horror e incompreensão nos Estados Unidos após sua exibição na noite de sexta-feira (27).
Desde que Tyre Nichols, de 29 anos, morreu, no começo do mês, sua família não para de fazer apelos à calma. E antes da divulgação do vídeo, exibido ao vivo e sem cortes pelas principais emissoras de televisão, o presidente Joe Biden ligou a mãe e o padrasto do jovem, e pediu à população que se manifeste pacificamente.
Concentrações foram registradas na noite de sexta, algumas com dezenas, outras com centenas de pessoas, em Memphis, Nova York e Washington. Outras estão previstas para este sábado (28).
Robert Jones, de 26 anos, atendente de uma loja em Memphis, assistiu a trechos do vídeo. "Ouvi dizer que é um ano novo, mas as coisas não mudam", disse, referindo-se à violência policial.
"É horrível ver cinco caras grandes batendo neste homem", afirmou Nancy Schulte, de 69 anos, recepcionista de um hotel da cidade.
O vídeo exibido pela polícia mostra um espancamento após uma blitz de rotina em 7 de janeiro, em Memphis, estado do Tennessee.
Os policiais agridem o jovem com socos, chutes e golpes de cassetetes, gás de pimenta e uma pistola Taser. Em nenhum momento Nichols parece tentar agredir os policiais. Ele tenta fugir e é pego. "Mamãe! Mamãe! Mamãe!", grita Nichols em um dos vídeos.
Aparentemente, o espancamento ocorreu a cerca de 100 metros da casa da mãe da vítima. E a ambulância demorou uns 20 minutos para chegar. O jovem morreu três dias depois em um hospital de Memphis.
Os cinco policiais foram demitidos, acusados de homicídio, e presos. Quatro deles foram postos em liberdade sob fiança.
Na sexta, embora tenha expressado seu horror, a família se disse "satisfeita" com as acusações apresentadas contra os policiais e elogiou a atuação "rápida" contra eles.
Apesar das palavras da família de Nichols, "se o veredicto for errado, os protestos serão maiores", prevê Demarcus Carter, um afro-americano de 36 anos, morador de Memphis, após assistir ao vídeo. "Poderia ter sido eu", acrescentou.
As imagens exibidas no vídeo despertam muitas interrogações. No clipe aparece o início da interação entre Nichols e os policiais.
Esta nova morte antes de uma detenção reacendeu as discussões sobre a violência policial nos Estados Unidos, onde está viva a lembrança da morte de George Floyd, assassinado em 2020 por um policial branco, um caso que deu origem a fortes protestos antirracistas.
Ben Crump, um dos advogados da família Nichols, culpou a "cultura policial institucionalizada".
"Não importa se o policial é negro, hispânico ou branco (...) Existem normas não escritas, segundo as quais, se uma pessoa pertence a um grupo étnico determinado, pode ser tratada com excesso de força", declarou neste sábado (28) à rede MSNBC.
"Esta é a cultura que matou Tyre Nichols", acrescentou.