Cientistas descobrem na África do Sul primeiras tumbas da pré-história

As sepulturas, ovais, foram descobertas a cerca de 30 metros sob a terra, no sítio paleontológico "Berço da Humanidade", no noroeste de Johanesburgo
Filipe Farias
Publicado em 05/06/2023 às 22:37
As tumbas contêm ossos de Homo Naledi, primos distantes do homem, que tinham o cérebro do tamanho de uma laranja Foto: Luca Sola / AFP


Da AFP

Uma equipe de cientistas, liderada pelo paleoantropologista Lee Berger, afirmou, nesta segunda-feira (05), que descobriu na África do Sul as tumbas mais antigas da pré-história.

Em posição fetal e amontoados em nichos enterrados no fim de uma rede de galerias estreitas, a cerca de 30 metros de profundidade, primos distantes do homem em estado fóssil foram encontrados em tumbas, em escavações iniciadas em 2018.

"Tratam-se dos enterros de hominídeos mais antigos já registrados, anteriores em ao menos 100 mil anos aos enterros de Homo sapiens, afirmam os cientistas em uma série de artigos, que precisam ser revisados por seus pares antes de serem publicados na revista científica "eLife".

As sepulturas, ovais, foram descobertas a cerca de 30 metros sob a terra, no sítio paleontológico "Berço da Humanidade", no noroeste de Johanesburgo, declarado patrimônio mundial pela Unesco e repleto de cavernas e fósseis pré-humanos.

As tumbas contêm ossos de Homo naledi, primos distantes do homem, que tinham o cérebro do tamanho de uma laranja e cuja descoberta por Lee Berger, em 2013 havia questionado algumas teorias sobre a evolução.

As sepulturas mais antigas que já haviam sido descobertas, principalmente no Oriente Médio e Quênia, tinham cerca de 100.000 anos e continham restos de Homo sapiens, antepassado direto do homem. As tumbas encontradas na África do Sul datam de pelo menos 200.000 anos a.C..

Durante as escavações, que começaram em 2018, a equipe de Lee Berger também encontrou símbolos geométricos – linhas, quadrados e cruzes – traçados nas paredes dos túmulos.

"Isto significaria que não apenas os humanos não foram os únicos que desenvolveram práticas simbólicas, mas também que sequer podem ter sido os que criaram este comportamento", observou o paleoantropologista de 57 anos, apoiado pela "National Geographic".

Tamanho do cérebro

Os pesquisadores costumam associar o domínio do fogo, da gravura e da pintura ao tamanho grande do cérebro do homem moderno.

Com características de criaturas de milhões de anos, como dentes primitivos e pernas trepadeiras, o Homo naledi também tem pés semelhantes aos nossos e mãos capazes de manejar ferramentas. "Estas descobertas mostram que as práticas mortuárias não se limitavam ao Homo sapiens ou a outros hominídeos de cérebro grande", acrescentam os cientistas nos artigos.

Esta teoria, que vai contra a ideia comumente aceita de que a consciência da morte e as práticas relacionadas fazem os humanos, já havia sido levantada por Berger quando ele apresentou o Homo naledi ao mundo, em 2015. Na época, a hipótese causou alvoroço e muitos especialistas questionaram o rigor científico do midiático paleoantropólogo americano.

"Foi demais para os cientistas de então", comentou Berger, em entrevista à AFP. Eles continuam "convencidos de que tudo está relacionado ao nosso grande cérebro e que ocorreu há muito pouco tempo, menos de 100.000 anos. Estamos prestes a dizer ao mundo que não é verdade", comemorou o explorador.

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