A Ucrânia anunciou, nesta quarta-feira (16), que um navio de carga comercial deixou o porto de Odessa por um novo corredor marítimo, desafiando a Rússia, que ameaçou afundar estes navios depois de abandonar o acordo que permitia a exportação de grãos ucranianos.
O navio "Joseph Schulte", com bandeira de Hong Kong, começou - segundo a Ucrânia - a navegar pelo Mar Negro, apesar de um novo bombardeio noturno contra depósitos de grãos e cereais no Danúbio, na região de Odessa (sul).
"O porta-contêineres 'Joseph Schulte' (...) saiu do porto de Odessa e navega ao longo do corredor temporário estabelecido para navios civis", anunciou o ministro ucraniano de Infraestruturas, Oleksandr Kubrakov, em um comunicado.
"A Ucrânia deu um passo importante para restabelecer a liberdade de circulação no Mar Negro", garantiu o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, em uma mensagem nas redes sociais.
Às 21h20 locais (15h20 em Brasília), o navio se dirigia para o porto turco de Ambarli, no mar de Mármara, segundo um site online de monitoramento marítimo.
No dia 10 de agosto, a Ucrânia anunciou a abertura de corredores "temporários" no Mar Negro - controlado em grande parte pela Marinha russa - para permitir o trânsito dos navios que transportam os grãos do país.
ATAQUES NO MAR NEGRO
No fim de semana, um navio de guerra russo disparou tiros de advertência contra um cargueiro que se dirigia para Izmail, porto do Danúbio.
Este porto se tornou uma das principais rotas de saída dos produtos agrícolas ucranianos desde que Moscou encerrou, em meados de julho, o acordo sobre a exportação de grãos e cereais, fonte de renda para Kiev.
Na terça-feira à noite, o Exército russo atacou infraestruturas portuárias no Danúbio com drones.
"Como resultado de ataques inimigos em um dos portos do Danúbio, depósitos de grãos foram danificados", anunciou o governador regional de Odessa, Oleg Kiper.
Zelensky afirmou que estes ataques russos resultariam "no aumento dos preços dos alimentos no mundo", assim como na instabilidade "política e social na África e Ásia".
Os bombardeios provam que o presidente russo, Vladimir Putin, "não se importa com a segurança alimentar mundial", declarou o porta-voz do Departamento de Estado americano, Vedant Patel.
As forças ucranianas anunciaram que derrubaram 13 drones durante a noite nas regiões de Odessa e Mykolaiv.
O governador da região de Donetsk, Pavlo Kirilenko, informou na manhã desta quarta-feira que as forças russas mataram quatro pessoas e feriram sete na região nas últimas 24 horas.
A Ucrânia anunciou a libertação de uma localidade da frente sul, onde se concentra a maior parte do esforço de sua difícil contraofensiva para liberar os territórios ocupados pela Rússia, iniciada em junho.
"Urozhaine foi libertada. Nossos defensores estão entrincheirados nos arredores. A ofensiva continua", disse a vice-ministra da Defesa, Ganna Maliar.
RECONQUISTA DE ÁREAS
Localizada em uma zona limítrofe com as regiões de Zaporizhzhia e Donetsk, parcialmente ocupada pela Rússia, Urozhaine - cuja população antes da guerra era de cerca de 1.000 habitantes - faz parte de um grupo de localidades que as forças ucranianas tentaram libertar nas últimas semanas. Sua reconquista era esperada para o fim de semana.
Na segunda-feira, a Ucrânia já havia reivindicado alguns avanços no leste e no sul de seu território, especialmente em torno de Bakhmut. Mas os avanços permanecem modestos após dois meses de combates. O Exército ucraniano também enfrenta dificuldades no nordeste, perto de Kupiansk.
A Rússia afirma, por sua vez, que as tropas ucranianas ficaram sem recursos e que sua contraofensiva fracassou, apesar da ajuda dos Estados Unidos e dos países da União Europeia.
"Os recursos militares da Ucrânia estão quase esgotados", disse o ministro russo da Defesa, Sergei Shoigu.
CONTRAOFENSIVA UCRANIANA
A Ucrânia insiste em que sua contraofensiva avança metodicamente contra as linhas de defesa russas em trincheiras, campos minados e armadilhas antitanque.
O território russo fronteiriço com a Ucrânia é alvo de ataques ucranianos, vários deles com drones, alguns dos quais chegaram a Moscou.
Uma pessoa morreu e outras duas ficaram feridas na terça-feira em um bombardeio ucraniano na província russa de Belgorod, afirmou o governador regional, Vyacheslav Gladkov, nesta quarta-feira.
A Rússia também enfrenta dificuldades na área econômica. Sua moeda desvalorizou consideravelmente, a inflação aumentou, e o comércio externo despencou, principalmente nas vendas de petróleo, como resultado das medidas restritivas adotadas por países ocidentais.
Depois de muita hesitação, o Banco Central russo finalmente decidiu aumentar a taxa básica de juros de 8,5% para 12%.