A Índia anunciou nesta quarta-feira (23) seu primeiro pouso de nave não tripulada perto do polo sul da Lua, uma conquista histórica para o país mais populoso do mundo e seu ambicioso programa espacial de baixo custo.
A nave Chandrayaan-3, que significa "nave lunar", pousou com sucesso na Lua, às 18h04 locais (9h34 em Brasília), sob aplausos dos engenheiros encarregados do projeto, anunciou a Organização Indiana de Pesquisa Espacial (ISRO, em sua sigla em inglês).
O pouso é feito dias depois que uma sonda russa colidiu na mesma região e quatro anos após o fracasso da última missão indiana deste tipo.
O primeiro-ministro, Narendra Modi, sorria enquanto balançava uma bandeira indiana ao vivo na televisão para anunciar o sucesso da missão.
"Nesta feliz ocasião, gostaria de falar a todos os povos do mundo", disse Modi em paralelo à cúpula diplomática dos Brics na África do Sul.
"O sucesso da missão lunar da Índia não é apenas da Índia", afirmou. "Esta conquista pertence à toda a humanidade".
MISSÃO CHANDRAYAAN-3
A Rússia encarou a notícia com espírito esportivo. Em um comunicado, a agência espacial rusa (Roscosmos) felicitou seus "colegas indianos". Já o presidente russo, Vladimir Putin, elogiou o "impressionante" sucesso da Índia, enviando suas "mais sinceras felicitações" ao premiê Modi, de acordo com o site do Kremlin.
A missão Chandrayaan-3 captou a atenção pública desde sua decolagem há seis semanas, diante de milhares de curiosos. Os políticos celebraram rituais hindus de oração para desejar sucesso na missão e, nas escolas, alunos assistiram aos últimos momentos do pouso transmitidos ao vivo.
Chandrayaan-3 demorou muito mais para chegar à Lua do que missões do programa americano Apolo nos anos 1960 e 1970, que alcançaram o satélite em alguns dias.
A Índia utiliza foguetes menos potentes que os usados na época pelos Estados Unidos, por isso, a sonda precisou orbitar a Terra várias vezes para ganhar velocidade antes de seguir para a Lua.
O módulo de pouso Vikram, "valor" em sânscrito, separou-se do módulo de propulsão na semana passada e já está enviando imagens da superfície lunar desde que entrou em sua órbita em 5 de agosto.
DADOS PARA A TERRA
Agora que o Vikram pousou, um veículo movido a energia solar explorará a superfície e transmitirá dados à Terra durante suas duas semanas de autonomia.
A Índia tem um programa aeroespacial de baixo custo em comparação com outras potências, mas cresceu notavelmente desde que enviou sua primeira nave espacial para orbitar a Lua em 2008.
O orçamento para esta missão é de 74,6 milhões de dólares (368 milhões de reais na cotação atual), prova da econômica engenharia espacial indiana.
Os especialistas dizem que esses baixos custos são alcançados copiando e adaptando a tecnologia espacial existente e aproveitando a abundância de engenheiros altamente qualificados que cobram muito menos do que os seus homólogos estrangeiros.
Em 2014, a Índia se tornou a primeira nação asiática a colocar um satélite na órbita de Marte e planeja lançar uma missão tripulada de três dias na órbita da Terra no próximo ano.
SUCESSO COMEMORADO
O sucesso desta quarta-feira era muito esperado pela ISRO, após o fracasso de sua missão anterior em 2019, quando perdeu contato com o módulo lunar Chandrayaan-2 momentos antes de seu pouso programado.
Muitos dos que trabalharam nessa missão estavam presentes nesta quarta, o que prova que seus esforços não foram em vão, afirmou o diretor da ISRO, S. Somanath.
"Desde então, fizeram todo o possível para descobrir o que deu errado", disse ele. "Minhas felicitações a todos esses heróis anônimos", completou.
K. Sivan, ex-chefe da ISRO, disse que a exploração indiana do polo sul da Lua, relativamente desconhecido, será uma contribuição "muito, muito importante" para o conhecimento científico.
Apenas Rússia, Estados Unidos e China haviam conseguido levar missões para a superfície lunar.
No início deste mês, a Rússia lançou sua primeira missão ao satélite natural da Terra em quase meio século, mas a sonda Luna-25 colidiu com a superfície durante sua tentativa de pouso na Lua. Se tivesse conseguido, a Rússia teria se tornado, com apenas alguns dias de vantagem, a primeira nação a chegar à região polar do astro.