VIOLÊNCIA

Aspectos de um Equador em 'conflito armado' pela violência do narcotráfico

País deixou de ser um paraíso de paz na América da Sul para mergulhar na violência do narcotráfico

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AFP

Publicado em 10/01/2024 às 14:08
Equador enfrenta 'conflito armado interno' - RODRIGO BUENDIA / AFP

Prisões transformadas em escritórios do crime, ruas submetidas ao terror de fuzis e granadas e governos sob pressão dos traficantes de drogas: o Equador volta a se aproximar do abismo e declara "conflito armado interno".

O país deixou de ser um paraíso de paz na América da Sul para mergulhar na violência do narcotráfico, com uma taxa de 46 assassinatos para cada 100.000 habitantes em 2023, a mais alta de sua história.

Depois de assumir o poder em novembro, o presidente Daniel Noboa se voltou para 22 estruturas ligadas ao tráfico de drogas. As três principais se autodenominam Los Choneros, Lobos e Tiguerones.

Têm alianças com organizações estrangeiras, como o cartel mexicano de Sinaloa, e coordenam sua operação a partir da prisão, sob o olhar cúmplice de agentes penitenciários, especialmente em Guayaquil (sudoeste), segundo denúncias de organizações civis.

Adolfo Macías ou "Fito", líder de Los Choneros, reinou neste porto durante 12 anos a partir de sua cela, até escapar sem um único tiro, como reconheceu uma operação de controle militar no domingo.

O jovem presidente de 36 anos enfrenta os exércitos do narcotráfico com a promessa de mão de ferro.

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Dentro das penitenciárias, os presos vivem em superlotação. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) informou em 2022 que a população carcerária era de 36.599 pessoas, quando a capacidade é de 30.169 (superpopulação de 21,3%).

Senhores das prisões, os detentos guardam seus arsenais como se fossem tesouros e frequentemente organizam rebeliões. Os confrontos entre gangues terminam em massacres que deixaram mais de 460 prisioneiros mortos desde 2021.

Nesta semana, 125 agentes penitenciários e 14 funcionários administrativos foram retidos, após a fuga de "Fito".

Um em cada três presos tem ligações com o tráfico de drogas, segundo estudos independentes.

Analistas estimam que a violência "extrema" no Equador se intensificou durante o governo de Guillermo Lasso (2021-2023).

O governo conservador resultou em um cabo de guerra permanente entre o poder da força pública e as organizações criminosas, onde ataques com carros-bomba, tiroteios e sequestros deixaram de ser novidade nas principais cidades.

Cada vez que o submundo quis intimidar os equatorianos, Lasso respondeu com estados de exceção, operações militares e toques de recolher.

"O que temos são três organizações criminosas que já não se enfrentam entre si, mas sim contra o Estado, têm um inimigo comum", disse à AFP César Carrión, pesquisador da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).

Noboa segue a linha de Lasso, mas foi mais longe e anunciou a construção de prisões de segurança máxima em navios e selvas isoladas, o reforço da Inteligência e o controle de fronteiras com drones e radares.

O governante mais jovem da história do país proclamou o fim dos tempos em que os criminosos "ditavam ao governo no poder o que fazer" e tomou medidas para "recuperar o controle" das prisões.

O anúncio do chamado "Plano Fênix" recebeu como resposta a fuga de "Fito" e um início caótico para 2024.

Noboa venceu uma corrida à presidência, na qual o candidato Fernando Villavicencio foi assassinado, um sinal de que o Equador estava para atingir o fundo do poço, como aconteceu com sua vizinha Colômbia no século passado.

Em sua primeira crise, o presidente declarou o país em "conflito armado interno" e ordenou às Forças Armadas que "executem operações sob o direito internacional humanitário", ou seja, concedeu "status" de beligerante às gangues.

"Agora vai se concentrar em enfrentá-las dentro de uma perspectiva que ele mesmo (Noboa) definiu como parte do conflito militar interno (...) A mão de ferro se estabelece agora de forma explícita e com grande legitimidade por parte da população, porque já está exausta, farta disso", analisa Carrión.

Para isso, conta com uma força de cerca de 60 mil soldados, quase o número de policiais. 

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