As divisões sobre Gaza e Ucrânia marcaram o início da reunião de chanceleres do G20, nesta quarta-feira (21), no Rio de Janeiro, na qual o Brasil criticou duramente a "paralisia" do Conselho de Segurança da ONU para solucionar esses conflitos.
O encontro, o primeiro de alto nível deste fórum cuja presidência cabe ao Brasil este ano, acontece na esteira da polêmica causada pelas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acusou Israel de cometer um "genocídio" na Faixa de Gaza.
"As instituições multilaterais [...] não estão devidamente equipadas para lidar com os desafios atuais, como foi mostrado pela inaceitável paralisia do Conselho de Segurança" em relação aos conflitos na Ucrânia e em Gaza, disse o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, a seus pares ao abrir o encontro.
BRASIL QUER REFORMA
O Brasil quer aproveitar seu papel de anfitrião para promover uma reforma das organizações multilaterais, em especial do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que fracassou diversas vezes em alcançar acordos sobre as guerras na Ucrânia e em Gaza por vetos de Rússia e Estados Unidos.
Nesta terça, os Estados Unidos vetaram novamente uma resolução do Conselho que pedia um cessar-fogo imediato em Gaza.
Além de Blinken, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, estará presente na reunião de chanceleres do G20 no Rio. Contudo, um encontro entre os dois não é esperado.
Nesta quinta-feira, Lavrov se reunirá com o presidente Lula em Brasília, segundo fontes do Palácio do Planalto.
Na antessala do encontro no Rio, o ministro russo conversou com Mauro Vieira e a chanceler mexicana Alicia Bárcena.
UCRÂNIA E RÚSSIA
Tampouco há otimismo no horizonte sobre a guerra na Ucrânia, prestes a entrar em seu terceiro ano.
Apesar da tentativa do Ocidente de condenar a invasão promovida pelo presidente russo, Vladimir Putin, a última cúpula do G20, celebrada em setembro em Nova Délhi, terminou com um comunicado vago denunciando o uso da força, mas sem citar a Rússia, que mantém relações cordiais com membros como Brasil e Índia.
As tensões com a Rússia se acentuaram após a morte na prisão do opositor Alexei Navalny, anunciada na sexta-feira.
Os países do Ocidente responsabilizaram Putin pelo falecimento do opositor e os Estados Unidos anunciaram que adotariam um "importante pacote de sanções" contra Moscou.
"Ninguém deve duvidar da natureza opressiva do sistema russo", disse o chanceler britânico, David Cameron, citado em nota na quarta-feira.
Cameron vai aproveitar sua presença no G20 para denunciar "a agressão russa" na Ucrânia, "diretamente" a Lavrov.
GOVERNANÇA GLOBAL
Também será abordada na reunião do G20, nesta quinta-feira, a reforma das entidades de governança global, como a ONU e o FMI. O Brasil defende que deve haver maior peso para os países do Sul global.
O número e a gravidade dos conflitos indicam que "retornamos ao nível da guerra fria, o que mostra que há um déficit de governança para enfrentar os desafios globais", disse na terça-feira Maurício Lyrio, "sherpa" brasileiro no G20.
Lyrio criticou que, por ora, o mundo se limite a "apagar incêndios".
SEM COMUNICADO CONJUNTO
O Brasil também fez da luta contra a fome e a ação internacional contra as mudanças climáticas prioridades de sua presidência do bloco.
Uma fonte do governo brasileiro explicou que, após os últimos dissensos, a Presidência decidiu que já não será preciso alcançar um comunicado conjunto em cada encontro, com a exceção da cúpula de líderes do G20, que será realizada no Rio em novembro.
Isso não significa menos reuniões: o Brasil vai organizar um segundo encontro de chanceleres à margem da Assembleia-Geral da ONU em setembro, em Nova York, com a intenção de que todos os países-membros do organismo participem.