O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, pressionou Israel nesta quarta-feira (7) para que o país aceite uma trégua que considera "essencial" na guerra contra o Hamas, que completa quatro meses.
O secretário de Estado se reuniu em Jerusalém com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, nesta quinta viagem do chefe da diplomacia americana pelo Oriente Médio desde o início do conflito, em 7 de outubro.
O governo do Catar, que atuou como mediador em uma trégua temporária em novembro, afirmou que o Hamas respondeu a uma nova proposta de acordo para interromper os combates.
"A resposta inclui alguns comentários, mas em geral é positiva", destacou o primeiro-ministro catari, Mohamed bin Abdulrahman Al Thani, após uma reunião com Blinken em Doha, no dia anterior. O Hamas confirmou que respondeu às propostas apresentadas na semana passada em Paris pelo Catar e outros mediadores.
'Há muito trabalho por fazer'
Blinken anunciou que discutirá a resposta do Hamas com as autoridades de Israel, depois de destacar que há "muito trabalho por fazer" e que um "acordo é possível e, certamente, essencial".
A agência de inteligência israelense, Mossad, também recebeu a resposta do Hamas, segundo o gabinete de Netanyahu.
Mas o chefe Governo de Israel, que não comentou a resposta do grupo islamista palestino, afirmou na terça-feira: "Estamos a caminho de uma vitória total e não vão nos impedir".
A pressão por um cessar-fogo aumentou com o avanço das forças israelenses em direção a Rafah, na fronteira sul de Gaza com o Egito, onde mais de metade da população do pequeno território palestino buscou refúgio.
"A intensificação das hostilidades em Rafah, nesta situação, poderia levar à perda de vidas civis em larga escala e devemos fazer o possível para evitar isso", afirmou Jens Laerke, porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
Guerra
A guerra começou em 7 de outubro com um ataque do Hamas no sul de Israel que matou mais de 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Os milicianos islamistas também sequestraram mais de 250 pessoas e 132 continuam em Gaza, incluindo 29 supostamente mortas.
Em resposta, Israel iniciou uma ofensiva militar que matou 27.708 pessoas na Faixa de Gaza, a maioria mulheres e menores de idade, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que governa o território.
Ao menos 123 pessoas morreram nas últimas 24 horas, disse a mesma fonte nesta quarta-feira.
A visita de Blinken "é um pesadelo, porque em cada viagem que faz, Israel intensifica as agressões para mostrar que rejeita a trégua", declarou Mohammad Abu Nada, no hospital Najjar em Rafah, onde foi retirar o corpo de um familiar morto em um bombardeio.
Israel informou que entraria em Rafah em busca de combatentes do Hamas. O Exército "chegará a lugares onde ainda não lutamos (...), até o último reduto do Hamas, que é Rafah", declarou nesta semana o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant.
Refugiados
Safia Marouf, que se refugiou em Rafah com sua família após deixar sua casa mais ao norte, diz temer pelo futuro. "As crianças vivem com medo. Se quiséssemos sair de Rafah, não saberíamos para onde ir. Qual será o nosso destino e o de nossos filhos?", se pergunta.
"A situação humanitária na Faixa de Gaza é mais do que catastrófica", afirmou o porta-voz da Federação das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, Tommaso Della Longa.
Após a reunião de Blinken em Doha, o governante catari disse estar "otimista" sobre a possibilidade de uma trégua, mas se recusou a comentar a resposta do Hamas.
Uma fonte do movimento islamista afirmou, na semana passada, que a proposta inclui uma pausa de seis semanas nos combates e uma troca de prisioneiros, além de mais ajuda para Gaza. Mas Netanyahu reiterou que o grupo apresentou "demandas que não aceitaremos".
Pressões
O governante israelense enfrenta pressões para acabar com a guerra e recuperar os reféns, com divisões notórias em seu gabinete e a indignação popular pela situação dos cativos.
Os Estados Unidos apoiaram energicamente Israel na guerra, mas também pediram que tome ações para reduzir as mortes de civis.
Nas últimas semanas, a violência se intensificou no Líbano, Iraque, Síria e Iêmen, onde grupos apoiados pelo Irã lançaram ataques em apoio ao Hamas, que geraram respostas de Israel, Estados Unidos e seus aliados.
Os ataques israelenses contra a cidade síria de Homs deixaram 10 mortos, incluindo os combatentes do Hezbollah libanês e seis civis, informou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) nesta quarta-feira.
Os rebeldes huthis do Iêmen atacam há semanas os navios no Mar Vermelho e no Golfo de Aden, em solidariedade com os palestinos. Os ataques afetam o comércio marítimo global e geraram respostas dos Estados Unidos e do Reino Unido.