As autoridades venezuelanas impediram nesta sexta-feira (26) que um grupo de ex-presidentes latino-americanos viajasse para Caracas, onde os ex-mandatários, todos fortes críticos da gestão de Nicolás Maduro, pretendiam observar as eleições presidenciais de domingo no país. O governo panamenho denunciou o ocorrido.
O voo CM 222 da companhia aérea panamenha Copa Airlines, que transportava quatro ex-presidentes da região para a Venezuela, não conseguiu decolar do aeroporto de Tocumen "por conta do bloqueio do espaço aéreo venezuelano", afirmou o presidente panamenho, José Raúl Mulino, em sua conta na rede social X.
O grupo é composto pelos ex-presidentes Miguel Ángel Rodríguez (Costa Rica), Jorge Quiroga (Bolívia), Vicente Fox (México) e Mireya Moscoso (Panamá), todos membros da Iniciativa Democrática da Espanha e das Américas (Grupo Idea), um fórum que se proclama defensor da democracia na região.
O voo pôde partir depois que os ex-presidentes, que inicialmente se recusaram a desembarcar do avião, decidiram sair e se dirigir ao palácio presidencial do Panamá para oferecer uma coletiva de imprensa.
"Queríamos estar com vocês (...). Dói em nossa alma, queremos uma Venezuela livre (...). Vão votar" e cuidem do voto "para que não o roubem", disse Moscoso na aeronave, entre aplausos de vários passageiros venezuelanos, segundo vídeos que circulam na rede social X.
Expulsão da Venezuela
Na quarta-feira, Diosdado Cabello, vice-presidente do Partido Socialista de Venezuela (PSUV), havia advertido que, se os líderes viajassem, seriam expulsos.
"Não estão convidados, são 'showseros' (...). Se aparecerem no aeroporto, meu Deus! O que vai acontecer? Expulsamos, expulsamos, não tem problema" porque "são inimigos deste país, são fascistas (...). Aqui não vão vir para perturbar", afirmou na televisão.
Os ex-presidentes latino-americanos haviam se reunido no Panamá para viajar juntos à Venezuela. Também fazia parte da comitiva a ex-vice-presidente colombiana Marta Lucía Ramírez.
A situação causou o atraso de outros voos que tinham a Venezuela como destino e também saíam de lá, segundo as autoridades panamenhas.
O chanceler panamenho, Javier Martínez-Acha, repudiou, na coletiva de imprensa ao lado dos ex-presidentes, o bloqueio do voo e disse ter convocado a representante da missão diplomática da Venezuela no Panamá para pedir uma explicação sobre o incidente.
Também na quarta-feira, o ex-presidente argentino Alberto Fernández afirmou que o governo da Venezuela lhe pediu para não viajar para atuar como observador das eleições de domingo, alegando "dúvidas sobre [sua] imparcialidade".
Maduro busca nas eleições de domingo um terceiro mandato consecutivo e enfrenta Edmundo González Urrutia, representante da líder da oposição, María Corina Machado, impedida pela justiça de exercer cargos públicos.
Mais de 130 detidos na Venezuela ligados à campanha da oposição, segundo ONG
As autoridades venezuelanas detiveram 135 pessoas ligadas à campanha do candidato da oposição Edmundo González Urrutia, principal rival do presidente Nicolás Maduro nas eleições de domingo (28), informou nesta sexta-feira (26) a ONG Fórum Penal, dedicada à defesa de presos políticos.
"Desde janeiro até agora, houve 149 prisões arbitrárias por motivos políticos (…) 135 estão diretamente ligadas ao que foi a turnê nacional e à própria campanha de María Corina Machado com Edmundo González Urrutia", disse à AFP seu diretor, Gonzalo Himiob.
"A maioria deles já foi libertada, alguns deles sem sequer terem sido processados, mas 47 permanecem privados de liberdade neste momento", continuou.
Denúncia da oposição
Machado, representada nas urnas eleitorais por González Urrutia após sua inabilitação política, denunciou uma escalada da repressão contra a campanha da oposição, sua equipe e seus colaboradores de confiança, seis dos quais estão refugiados na embaixada argentina.
Comerciantes e empresários também estão entre os presos. Da mesma forma, as autoridades fecharam estabelecimentos que prestavam serviços a opositores.
A campanha eleitoral da Venezuela, que começou em 4 de julho e terminou nesta quinta-feira, foi marcada por relatos de repressão e detenções de opositores, a quem o governo acusa de planejar ignorar os resultados e procurar a "violência" para derrubá-lo.
Até o momento, o Fórum Penal conta 305 "prisioneiros políticos" na Venezuela, dos quais 30 são mulheres.