Políticas públicas refletem o vácuo da participação feminina

Devemos ressaltar o quanto o advento do equilíbrio seria capaz de proporcionar, no mínimo, mudanças de perspectiva na visão de mundo que fundamenta planos e ações de governo
PRISCILA KRAUSE
Publicado em 08/03/2022 às 6:00
Autarquia abriu uma exceção após problemas com a contratação de empresas por Registro de Preços Nacional, cujas atas expiraram no ano passado Foto: Foto: Amanda Duarte / NE10


 

Chegamos a mais um Dia da Mulher. Todos os anos, precisamos repetir a importância e a necessidade da melhor representatividade feminina nas instâncias decisórias, na vida privada, e no exercício do poder, na vida pública. A sub-representação continua no Brasil, em Pernambuco e no Recife. E porque faltam mulheres em postos-chave de comando, as políticas públicas refletem o vácuo da participação feminina. O que não quer dizer que o mero equilíbrio de gênero suscitaria um avanço significativo na qualidade de vida da população. Mas devemos ressaltar o quanto o advento do equilíbrio seria capaz de proporcionar, no mínimo, mudanças de perspectiva na visão de mundo que fundamenta planos e ações de governo.

Por exemplo, na difícil realidade que temos em Pernambuco, a ampliação dos horizontes há de começar pelo foco em programas de apoio ao desenvolvimento infantil, desde a primeira infância. É papel do Estado prover condições básicas para que as gestantes e as mães possam cuidar dos bebês com dignidade, usufruindo não apenas da responsabilidade, mas da alegria da maternidade. O desamparo que muitas gestantes e mães ainda encontram para criar seus filhos em nosso estado é vergonhoso! O aperfeiçoamento das condições de cuidado, incluindo a oferta de creches com estrutura para acolher as famílias diariamente, pode trazer repercussões transformadoras, de natureza social e efeitos econômicos multiplicadores.

A garantia de oportunidades individuais é uma das premissas da existência do Estado numa democracia que preze pelo bem-estar da população. Em Pernambuco, líder nacional em desemprego, a falta de oportunidades resulta no aumento cumulativo da pobreza e da miséria há mais de uma década, como não se pode esconder nas ruas, calçadas e esquinas do Recife. E a calamidade social que nos aflige é pior para as mulheres, que sustentam, sem ter como, a sobrevivência de uma geração nascida sob o estigma da exclusão. Ampliar e diversificar a qualificação profissional das mulheres é crucial para reverter o processo de decadência que vem prejudicando a vida dos cidadãos, sem a proteção e a oferta de alternativas esperadas da parte do governo estadual, em repetitivas e mal-sucedidas gestões.

As pernambucanas e os pernambucanos merecem outra visão, que compreenda o papel feminino de maneira mais includente, justa e ativa, para assegurar direitos que foram esquecidos e desrespeitados. E resgatar o futuro no olhar de um combalido presente, que precisa, com urgência, ser superado.

Priscila Krause, deputada estadual.

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