Acredito que o movimento Todos pela Educação inspirou a mobilização Todos pela Saúde, articulada pela sociedade civil organizada em prol do acesso a serviços de saúde para os brasileiros, em decorrência da covid-19. Isso inclui desde as compras de máscaras de proteção até o apoio à aquisição de equipamentos e respiradores para hospitais públicos. Contudo, ainda estamos vivendo o drama do novo coronavírus, mesmo em países que já saíram da fase mais aguda, em função do receio da segunda onda. E só estaremos verdadeiramente seguros após a descoberta de uma vacina eficaz – comprovadamente – no combate ao vírus.
Os primeiros meses de 2020 ficaram marcados pelo distanciamento social e pelos diferentes setores produtivos literalmente fechados, culminando no aumento do desemprego e em uma brutal queda na geração de renda. Para minimizar tais efeitos nas famílias mais vulneráveis do ponto de vista socioeconômico, o governo federal, por sua vez, criou o chamado coronavoucher, que tem permitido o sustento básico dessas famílias.
Mas já alertou que esse voucher tem prazo para acabar. O desemprego já assola milhões de brasileiros de diferentes idades, principalmente os de menor escolaridade. Há ainda um grande temor de que a perda de renda nessas famílias mais vulneráveis empurre os jovens para fora da escola. Ou seja, que o abandono escolar entre os jovens que se encontram na última etapa da Educação Básica – o Ensino Médio – cresça ainda mais. Não à toa, as secretarias de Educação dos estados já estão se organizando para colocar em prática projetos de busca ativa para atrair os jovens ao retorno das atividades presenciais. Tarefa duríssima essa, pois diversos estudos mostram a intensa pressão que esses jovens sofrem para complementar a renda familiar.
O drama do desemprego e da geração de renda se aplica a todas as pessoas de maior vulnerabilidade social, que se encontram nas classes D e E. Isso pode ampliar drasticamente o atual drama social que estamos vivendo em decorrência da covid-19. Se o país não tiver um plano robusto de geração de renda que vá além do assistencialismo, podemos ter um caos social, guiado pelo acentuado aumento da violência, principalmente porque as medidas tomadas até o momento não só têm prazo de validade, como também apresentam uma capacidade limitada de atuação.
Por isso, considero que é chegado o momento de iniciarmos, enquanto sociedade civil organizada, o terceiro movimento: Todos pela Renda – envolvendo as três esferas de poder dos governos, os empresários, as universidades e todos aqueles que entendem que sem uma educação básica de qualidade, sem condições sanitárias e de saúde para o adequado enfrentamento do covid-19 e sem uma política de geração de renda, o país não vai ficar em pé.
*Mozart Neves Ramos é titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados da USP-Ribeirão Preto e membro fundador do movimento Todos pela Educação.