A rota é de desastre institucional. Pior do que o que já se vive. O que antes, já no período eleitoral, era coisa medonha, cada vez mais soa como algo terrível. Com uma singularidade: desastre anunciado. Política de terra arrasada na Amazônia, com o "bônus" da verbalização, pelo Ministro Ricardo Salles, do "passar a boiada" do ajuste de normas e regulamentações, de modo a favorecer espúrios interesses comerciais. Isso, em 22/04/2020 - quando a boiada já estava em passagem... Afrontosa promoção do suicídio do país na área de educação, em todos os níveis. De quebra, um programa generoso de bolsa de estudos para militares, incluindo estadia em universidades no Exterior, quando paralelamente drenam-se recursos destinados a ensino e pesquisa nas IFEs. E, desde sempre, atos de afronta à Democracia e a direitos civis, o que inclui cooptação de frações das polícias estaduais, para bélico proveito político. O episódio recente - possivelmente associado a intolerância ideológica - da fria, desastrosa e aparentemente pensada agressão da PM a uma manifestação política no Centro de Recife, parece fruto de tal cooptação por quem sempre visa o caos como meio para escusos fins. Ademais, a tenaz busca de envolver as FFFAs no embrulho. O envoltório de tudo isso, motivação maior: o primado, desde o início da gestão, de reeleição do mandatário, com recurso a campanha eleitoral permanente, nas ruas, fora de época - agora, as 'motociatas". Sempre causando aglomeração social, em flagrante desrespeito ao bom senso e a normas federais, estaduais e municipais. E vem aí a marca de 500 mil vítimas fatais da Covid-19.
Diante disso, as manifestações de rua de 29/5 (com cuidados sanitários) e o amplo panelaço de 02/6 são mostra do desgaste do governo - captado em pesquisas de opinião. Sinais que devem estar sendo olhados por segmentos oposicionistas em busca da 3ª. via rompedora da atual polarização. Mas, predomina a visão da "espera" até out2022, como se o tempo até lá não encerrasse perigos, até de inviabilização das eleições ou mesmo de afronta a um resultado adverso aos interesses do presente mandatário. Um eventual impeachment (para o que abundam provas técnicas), devidamente articulado entre os polos institucionais, seria - de longe - bem menos traumático do que o inimaginável até o desfecho das eleições. Prevenção de danos. Mire-se o evento "surpresa" do ataque ao Congresso dos EUA, em 06/01/2021, anunciado via discurso antecipado da "certeza" de fraude eleitoral. Discurso repetido no Brasil, vitimando-se a urna eletrônica. O tempo é compositor de destinos, como canta Caetano em sua Oração ao Tempo. E nos cabe fazer nossa parte para a melhor composição possível. Meus botões vivem me lembrando disso.
Tarcisio, economista, Professor da UFPE (aposentado), Consultor.
*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC