"A violência não é força, mas sim fraqueza, e nunca poderá ser criadora de coisa alguma, apenas destruidora" (Benedetto Croce).
Não de modo surpreendente, insiste em não sair do radar social o tema da violência doméstica, ao perdurar de pé a cultura patriarcalista da objetificação feminina, de raízes fundas, a ensinar que um ser humano pode ser propriedade alheia, pela "felicidade" do par.
O caso do DJ Ivis não é isolado. Só que aqui, chegando ao seu limite de exaustão, a vítima resolveu tornar público o seu calvário. Nem todas o fazem.
Contra o vídeo, o DJ se disse alvo de chantagem antecedente. Como sempre, a vítima passou a culpada. Invertem-se os papéis. Pior: o agressor ainda ganha milhares de novos seguidores nas suas redes sociais.
No Brasil, a cada 25 minutos, em média, uma mulher é vítima de agressão física e/ou verbal por sua condição de mulher, de acordo com levantamento do IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) divulgado na Revista Piauí de 12/3/2021, edição eletrônica.
Qual então a saída? O que fazer? Como reagir? De cara, assumir o problema. Em seguida, buscar ajuda. Em continuidade, o que não raro é o mais difícil, superar o trauma e recompor a autoestima. Seguir em frente. Reconstruir-se. Fundamental, ainda, na libertação de um relacionamento abusivo, perdoar-se. Sim, perdoar-se. Não inferiorizar-se pelo que ocorreu. A culpa não é de quem sofre.
Resignar-se não só potencializa a dor de quem é violentado, mas estimula o próprio agressor e outros, perpetuando um círculo vicioso. Por isso, há o Disque 180. Por isso, há a Lei Maria da Penha. Por isso, a mulher deve conhecer seus direitos. Por isso, as medidas protetivas. Mas para isso, um Estado presente, sem o que a lei de nada significará.
A violência não é somente o hematoma. A violência é também a ameaça. É a humilhação. É a intimidação. É o cerceamento da liberdade de ir e vir. É forçar a relação sexual. É restringir a autodeterminação feminina no que se refere ao momento de exercer a maternidade. A violência é multifacetada. Não peca pelo óbvio.
Encerro, sem mais, na companhia da saudosa psicoterapeuta Mônica Raoulf El Bayeh, em sua coluna "Um Dedo de Prosa" para o jornal Extra, em 11/01/2014:
"Quem ama bate? Maltrata? Mata? Mata por erro de cálculo ou por caso pensado? Quem ama, mata? Você mataria por amor? Dessa vez, eu respondo por você. Independente da resposta que você pensou, não se mata por amor. Amor quer o bem, quer inteiro, quer feliz. Mesmo que não seja junto".
Basta!
Gustavo Henrique de Brito Alves Freire, advogado