ARTIGO

Assembleia Nacional Constituinte do Chile

Clima dominante na composição da Constituinte não aponta para mudanças radicais, de caráter socialista, na estrutura econômica, e sim para uma modernização no modelo, com uma agenda voltada para o meio ambiente, a diversidade, a garantia de uma saúde pública, a seguridade com aposentadoria digna, a educação de qualidade

Cadastrado por

José Arlindo Soares

Publicado em 24/07/2021 às 6:20
Sessão da Assembleia Nacional Constituinte do Chile - @CONVENCIONCL VIA TWITTER

Após 31 anos do fim da ditadura no país, foi recém instalada a primeira Assembleia Nacional Constituinte no Chile. Um pais que marchava bem na macroeconomia foi surpreendido por um onda de insatisfação em razão do acúmulo de problemas socias que pareciam submersos. Desde a retomada da Democracia, dos setes pleitos Presidenciais realizados, cinco foram vencidos pela Concertación e Nueva Mayoria, uma coligações de centro-esquerda com hegemonia do partido socialista e da Democracia Cristã.

Apenas dois pleitos foram vencidos pela direita liberal, no caso representada pelo atual Presidente Sebastián Piñera. Nos vinte anos de governos da aliança de centro-esquerda (Concertación e Nueva Mayoria) foram promovidas significativas mudanças no legado político e social do período da ditadura, mas não conseguiram reverter os fundamentos da relação entre economia e desigualdade. O sistema previdenciário continuou a ser uma fábrica de produzir pobreza, enquanto as dificuldades de acesso à educação travam a mobilidade social, contribuindo para manter o Chile em um patamar alto de desigualdade no continente. Fator que é atribuído ao legado deixado pelos "Chicago Boys" ao País. De saída, o que chama atenção nessas eleições é que a sociedade emergente e insubmissa não permitiu que as forças políticas tradicionais ditassem as regras para a regulação do modelo eleitoral, que sempre favorece aos que já fazem parte do escopo tradicional do poder. O grande diferencial do resultado da eleição dessa Constituinte foi a "débacle" dos partidos tradicionais. Logo depois de reconhecer os resultados do Pleito o Presidente Sebastian Pinera foi enfático ao afirmar que a "a cidadania nos enviou uma clara mensagem e também a todas as forças políticas tradicionais. Não estamos sintonizadas com as demandas da cidadania, e estamos sendo questionados por novas expressões e novas lideranças" (reproduzido pela BBC NEWS).

Por fim, pode-se afirmar que o clima dominante na composição da Constituinte não aponta para mudanças radicais, de caráter socialista, na estrutura econômica, e sim para uma modernização no modelo, com uma agenda voltada para o meio ambiente, a diversidade, a garantia de uma saúde pública, a seguridade com aposentadoria digna, a educação de qualidade. São temas que foram hegemônicos na campanha eleitoral. Ao que parece, essa inusitada hegemonia dos independentes de centro-esquerda sem as amarras partidárias deverá optar por reformar o sistema de suas mazelas mais gritantes com ampliação do espirito democrático.

José Arlindo Soares, sociólogo

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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