O recado dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi contundente e muito oportuno: Basta das recorrentes ameaças do presidente da República à realização das eleições de 2022, das agressões às instituições, das provocações de desconfiança no sistema eleitoral brasileiro, das sistemáticas mentiras e manipulações. Além dos pronunciamentos, o TSE aprovou, por unanimidade, a abertura de um inquérito administrativo contra o presidente e a inclusão de Jair Bolsonaro no inquérito das fake news, que corre na alta corte de justiça. Na mesma direção, os ex-presidentes do TSE desde 1988 refutaram as mentiras de Bolsonaro, afirmaram que as "urnas eletrônicas são auditáveis em todas as etapas do processo, antes, durante e depois das eleições, e acompanhadas pelos partidos políticos, a Procuradoria Geral da República, a Ordem dos Advogados e a Polícia Federal".
Mas o presidente já mostrou que aposta no confronto, que se move com desenvoltura e competência apenas no jogo bruto do enfrentamento. Como não sabe e não tem apetite para governar, "entregou a alma do governo" ao Centrão para se dedicar, em tempo integral, às provocações e às agressões. Lamentavelmente, ele tem seguidores. E não apenas os fanáticos que vão às ruas para defender qualquer das suas obscuras intenções. Os presidentes do Clube Naval, do Clube Militar e do Clube da Aeronáutica saíram em defesa de Bolsonaro, repetindo a falácia de falhas no sistema eleitoral eletrônico. A nota termina com uma típica manipulação bolsonarista: "O prazo final para resolução desse imbróglio, visando as eleições de 2022, será outubro. Esperamos que não seja um outubro vermelho, mas sim verde e amarelo". Risco de uma fratura institucional é tudo que Bolsonaro deseja.
Encurralado por várias frentes e percebendo uma possível derrota eleitoral, o presidente utiliza a obsessão do voto impresso com dois objetivos. Desviar a atenção para os graves problemas do Brasil e para o desgoverno e desmoralizar o pleito eleitoral que permita virar a mesa, no caso de uma provável derrota nas eleições. Neste caso, acusará de fraude e pedirá a contagem dos 150 milhões de votos, tempo e clima suficientes para convocar seus milicianos e provocar uma comoção nacional. O basta do STF e do TSE foi um chamado às instituições e democratas brasileiros, um recado ao Congresso Nacional para resistirem às manipulações e pretensões golpistas de Bolsonaro.
Sérgio C. Buarque, economista
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