O sexto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas/IPCC, criado em dezembro de 1988 pela Organização Metereológica Mundial e pelo Programa da Nações Unidas para o Meio Ambiente, traz conclusões e recomendações de impacto sobre o aquecimento da Terra em curso.
Dentre as principais, destacamos: (i) É inequívoco que a atividade humana aqueceu a atmosfera, os oceanos e a superfície terrestre. (ii) O aquecimento global ultrapassará 1.5ºC antes do meio deste século, mas pode ser reduzido abaixo disso no fim do século com ação ambiciosa imediata. (iii) As emissões do passado já tornaram irreversíveis algumas consequências do aquecimento global, tais como: o degelo, o aumento do nível do mar e mudanças nos oceanos. (iv) Eventos catastróficos não podem ser descartados. (v) Para reduzir o impacto humano no clima, o único nível tolerável de emissão é zero. Elaborado por 801 autores e revisores, sendo 21 brasileiros, o relatório do IPCC reflete o consenso científico e os estudos mais aceitos da literatura, tendendo a ser bastante conservador em suas conclusões, e mais conservador ainda em seus relatórios sumários para tomadores de decisão.
Quando leio esses relatórios, lembro de duas frases, uma, do sociólogo Antony Giddens, o que ele chamou de paradoxo de Giddens: "Quando a crise do clima se tornar prioridade real e de todos, será tarde demais". Outra, atribuída ao comediante de cinema mudo dos anos 30, Groucho Marx: "Por que eu deveria me preocupar com o futuro? Ele nunca fez nada por mim!".
O sexto relatório do IPCC, sintetizado acima nas suas principais conclusões, já não deixa margem a dúvidas. Estamos a caminho do desastre, pondo em risco toda a humanidade. Mas, por que mudar o rumo da nossa sociedade, ancorado no consumo de combustíveis fósseis é uma tarefa tão difícil e árdua? Entendo que seja por dois motivos principais: Um, a sustentação econômica e interesses do capital grosso, ligado à produção e comercialização da energia fóssil. Em segundo lugar, o fato que o sistema internacional, o "(des)concerto das nações", é anárquico e desigual, com precária coordenação, e alinhar perdas e ganhos do processo de transição para uma economia sustentável é de dificílima execução. Porém, e aqui vai mais uma frase, esta de Winston Churchill: " Passamos do tempo dos adiamentos e procrastinações e entramos no tempo das consequências"
Raul Jungmann, ex-ministro da Reforma Agrária, Defesa e Segurança Pública
*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC