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Frisson mesmo seria Michelle Bolsonaro tendo um caso com um petista

"As primeiras-damas do Brasil sempre foram sérias e, em proporções diversas, engajadas. A família Bolsonaro, cuja falta de responsabilidade no trato da coisa pública é notória, inaugura mais uma vergonha, conspurcando uma figura que, no Império e na República, se salvava até agora". Leia a opinião de João Humberto Martorelli

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JOÃO HUMBERTO MARTORELLI

Publicado em 07/10/2021 às 6:10 | Atualizado em 07/10/2021 às 7:11
Michelle teria atuado para favorecer amigos com empréstimos da Caixa, segundo revista - ISAC NÓBREGA/PR

Frisson mesmo seria Michelle tendo um caso com um petista, negro, barbudo, desses que andam de calças frouxas, tamancos e camiseta vermelha com a estampa Lula-lá. Mas uma ajuda às velhas amizades, à doceira, ao cabeleireiro, ao florista, ainda mais uma ninharia de quinhentos contos, não era para se fazer esse alarde todo, afinal, qual a vantagem de ser primeira-dama se não for para dar essa mãozinha aos amigos?

Verdade que, tirando D. Dulce Figueiredo, que levava sempre o cabeleireiro nas viagens oficiais, as primeiras-damas brasileiras sempre tiveram atuação relevante e sem passagem pela polícia. A começar pelas três imperatrizes, cujo amor à segunda pátria deixou notáveis passagens políticas e pessoais. Darcy Vargas inaugurou as funções sociais e assistencialistas da primeira-dama, fundou a Legião Brasileira de Assistência, notabilizou-se por empenho nas causas relacionadas ao amparo aos mais humildes.

Sara Kubitschek também se dedicou a causas sociais, tendo expandido a Fundação de Pioneiras Sociais. De Eloá Quadros nasceu a inspiração para a escultura Pombal, concebida por Oscar Niemeyer (não se sabe a razão de tanto apego aos pombos, penso eu que ela se identificava com eles de vontade de voar para longe da personalidade lunática do marido), além da declarada vontade de dedicação a causas assistenciais, lamentavelmente não executada devido à curta duração do mandato de Jânio.

Maria Thereza Goulart marcou sua passagem por conta da beleza, elegância e charme, o que é uma injustiça histórica e uma agressão à mulher que é, porque, se não participou ativamente das querelas políticas, também se dedicou a causas sociais. Na Nova República, deve ser reverenciada a discrição de Marli Sarney, que presidiu o Conselho de Administração da Legião Brasileira de Assistência e deu apoio a outros órgãos públicos. Conta-se que, em visita às ruínas do Real Forte da Beira, após uma aula de história do local, foi discutida a reestruturação das ruínas, tendo ela opinado que as ruínas deveriam ficar como estavam. Grande D. Marly!! A quem aproveita a reconstrução de ruínas, senão à memória de quem as refaz, sobrepondo-se à memória original? Da simplória Rosane Collor à bela e sóbria Marcela Temer, passando por Marisa da Silva e pela força intelectual, política e gigante visão cosmopolita de mundo e dos problemas sociais de Ruth Cardozo, as primeiras-damas do Brasil sempre foram mulheres sérias e, em proporções diversas, engajadas.

A família Bolsonaro, cuja falta de responsabilidade no trato da coisa pública é notória, inaugura mais uma vergonha, conspurcando uma figura que, no Império e na República, se salvava até agora. É da linhagem do capeta esse povo. Que Deus proteja Laurinha e a guarde do mal. Amém!

João Humberto Martorelli, advogado

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

 

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