Como acontece em todo o início de ano, as nossas esperanças teimam em se renovarem. Saímos de um turbulento ano de 2021, que foi marcado pelo endividamento das empresas e das famílias, e conseguimos sobreviver à maior crise sanitária do último século. Essa crise provocou vários reflexos econômicos, políticos e sociais, embora boa parte da população brasileira já tenha sido vacinada contra a covid-19. Apesar disso, costumamos não ser pessimistas quanto à previsão do ano que se inicia, mesmo que as perspectivas da economia brasileira para 2022 se apresentem desafiadoras. Essas previsões não são das mais animadoras, pelo turbilhão de incertezas fiscais e políticas. Mas há outros fatores conjunturais e estruturais, tais como, a volta da inflação acima de dois dígitos, o provável aumento da taxa Selic, que pode atingir os 11, 5% (a atual já se encontra em 9,25%), a elevada dívida pública interna e o aumento desenfreado do gasto público, com o intuito eleitoreiro, contribuindo para o endividamento público. Sem esquecer de colocar nesse caldeirão, os famigerados acordos firmados pelo Congresso que contribuirão para comprometer as contas públicas em 2022. Contudo, não é possível pensar em 2022, sem considerar as eleições. Os fatos que ocorrerão nos próximos meses, que irão anteceder as eleições, certamente repercutirão no resultado das urnas. Sem levar em conta que este último ano do Presidente poderá ser afetado por uma eventual terceira onda da pandemia. Com a popularidade em baixa, o Presidente vai procurar reverter sua atual imagem negativa, visando conquistar o eleitor a partir do 2º semestre de 2022. Se a economia brasileira não tiver um crescimento robusto, no 1º semestre de 2022, a popularidade do mandatário tenderá a cair ainda mais, o que o fará a dar adeus ao 2º turno das eleições presidenciais. Além disso, o Presidente precisa fazer uma série de acordos políticos, para garantir a sua governabilidade até o mês de outubro de 2022. Para tanto, terá que abrir o cofre do governo, a fim de manter a sua base aliada de sustentação. Trata-se do velho e conhecido "modus operandi" da política brasileira. Enquanto a distribuição de emendas e o gasto descontrolado forem as principais estratégias para comprar o apoio político com vistas à reeleição, as contas da união e a economia continuarão sendo as maiores prejudicadas. Ao invés de se preocupar com a situação fiscal, o governo continua focado em conquistar o apoio no Congresso. Ou seja, mudou o governo, mas se manteve a velha política do "toma lá, dá cá". Essas práticas nefastas, nos deixam com a nítida impressão de que não há o menor interesse em diminuir a dívida pública, independente da situação fiscal do país, já bastante comprometida. Dependendo do desenrolar do processo eleitoral e dos compromissos de campanha assumidos pelos candidatos a Presidente da República, com as reformas necessárias e com a responsabilidade fiscal, o que se espera é que as nuvens pesadas, que anunciam uma tempestade no cenário da economia brasileira para 2022, consigam ser dissipadas ao longo deste ano.
Cláudio Sá Leitão, conselheiro pelo IBGC e CEO da Sá Leitão Auditores e Consultores.
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