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Antônio Maria, o criador de 'Menino Grande'

"Maria, como era chamado pelos colegas de imprensa e amigos, passava as férias na Usina Cachoeira Lisa, de seu avô materno Rodolfo Albuquerque de Araújo". Leia o artigo de Arthur Carvalho

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ARTHUR CARVALHO

Publicado em 19/01/2022 às 6:00
Antônio Maria morreu aos 43 anos, em 1964 - Coleção José Ramos Tinhorão/ IMS

Antônio Maria nasceu no Recife em 17 de março de 1921, e morreu no Rio de Janeiro, em 15 de outubro de 1964, de infarto fulminante, quando bateu a cabeça na calçada após trocar um cheque no restaurante Le Rondon Point, em Copacabana, aos 43 anos de idade.

Maria, como era chamado pelos colegas de imprensa e amigos, passava as férias na Usina Cachoeira Lisa, de seu avô materno Rodolfo Albuquerque de Araújo. Era uma família rica, que perdeu quase tudo com a desvalorização internacional do açúcar na Segunda Guerra. Cedo, o criador de Menino Grande, de clã abastado, teve que cair em campo, indo pra luta, e se tornou radialista em Fortaleza e Salvador e, por fim, Rio de Janeiro.

Chegando ao Recife, em começo dos anos 50, eu ouvia falar muito em Cachoeira Lisa e tinha vontade de conhecê-la. De repente, o estalo: trouxemos, de Natal, parte do nosso time de futebol, o Guarany Esporte Clube, que fundamos com meu irmão Carlos Aloysio e Levy Viana. Vieram, conosco, Zé Consentino, Fabiano Véras, Mário de Sá Leitão e Kléber de Carvalho Bezerra. Aqui, enxertamos com Jaime Marocão, China Bivar, Odilon e Zé Maroja, Ricardo de Paula Lopes e Gigi, irmão de Dadá, beque central do América. Estava escalado o esquadrão para enfrentar o escrete de Cachoeira Lisa, realizando meu sonho.

Zé Maroja e seu primo Odilon, que jogavam com a gente no juvenil do Sport, descendentes de usineiros e senhores de engenho da Paraíba, portanto conhecedores da área, encarregaram-se da "excursão" e partimos de manhã cedo, do Recife, em caminhonete fretada, para a usina. Para mim, um mundo desconhecido e pitoresco de massapê, estradas compridas, léguas tiranas, de barro vermelho e areia cortando verdes canaviais, margeando rios e riachos, lagoas e açudes.

Como uma próspera e tradicional usina de açúcar, abastecida por vários engenhos, podia decair no meio de tanta riqueza natural e clima propício à lavoura que explorava? Eu ainda teria que aprender muito sobre a Mata Atlântica, o Agreste e o Sertão de Pernambuco, de terras esturricadas pelo sol causticante e falta de chuva, a lua cheia nascendo detrás da serra e as noites frias e estreladas de São João - tentando entender melhor por que o autor de Ninguém me ama nasceu em berço esplêndido e morreu pobre, trocando cheque em mesa de bar. E, até hoje, não entendo. Morreu como desejava: bebendo uísque. Foi socorrido, mas não se recuperou - partiu amando Danuza Leão, sua grande paixão.

Arthur Carvalho, Academia Pernambucana de Letras - APL

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

 

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