As primeiras palavras são para ti, gloriosa faculdade, de onde nunca saímos como um parasita não sai de sua árvore. Palavra que é, antes um olhar, que palavra. Olha rremoto, aos campos alteados de Olinda -, palco de todas as campanhas -, olhar para o mosteiro de São Bento, onde os frades, em intrépido coral, pressentiram o arcabuzamento de Frei Caneca, Reitor emérito e perene da academia dos homens livres, como Unamuno foi eterno reitor de Salamanca.
Um olhar para o Carapuceiro, Miguel do Sacramento Lopes Gama, Padre, Diretor do Liceu Provincial e dos Cursos Jurídicos de Olinda; um olhar para o Palácio dos Governadores, onde funcionou; olhar de respeito para Autran de Albuquerque, Paula Batista, Jerônimo Vilela, Clóvis Bevilacqua, Sílvio Romero, Martins Júnior, bastando-nos esses poucos, que todos aqui não cabem; um olhar para a Sociedade Cearense 18 de Janeiro; de naturalizado, um olhar para a Escola do Recife, invadida também de cearenses; um olhar de cupidez para o teu magnífico templo, que é cegonha da liberdade, não sendo mãe, porque a mãe da liberdade são os homens.
Um olhar ainda, senhora de traços marcados, para o xadrez do teu ladrilho, para a intimidade dos painéis de pequenos mosaicos, como se feitos por Gaudi; um olhar para o teu portentoso assoalho, para os teus nichos; um olhar de respeito por tua Biblioteca, Aristóteles, Platão, Locke, Cícero, Sêneca, Hiering, Kant, Lamartine, Byron, Shelley, "Hermenêutica" de Paula Batista, "Ciência Feliz" de Souto Borges; um olhar desapressado em teus retratos, teu lustre, um olhar pelas onze janelas do teu frontispício superior, as duas torres laterais, tão ignoradas pelos que passam na calçada como pelos que passam dentro como nós.
Um olhar sobre os teus homens, seus atos, seus gestos à mesa, sua porção de história. No que tu abundaste em gestos, outros falharam! Quem nomearia para ombrear-se com Nunes Machado e Jerônimo Vilela, numa empresa revolucionária, armas em punho? Tu, perene e gloriosa Faculdade, como exemplo de firme propósito libertário, és a imunidade cujo gérmen dorme no organismo da história.
Por isso, preciosa e feminina escola, esteio da brasilidade, um olhar reverencial para o corrimão dourado do acesso a teu salão nobre - de onde partiram muitas procissões patrióticas - um último olhar agora ao mármore, ao alabastro das colunas, à fundição perfeita, ao cego e obediente relógio de Paris, mecânico, como mecânica é a vida, eterno, como eterno é o propósito dos homens, tanto mais se tal propósito é a liberdade.
Tadeu Alencar, deputado federal (PSB-PE)