OPINIÃO

Outra aberração do nosso sistema político-eleitoral: o troca-troca de agremiações pelos parlamentares através da janela partidária

Estima-se que cerca de 154 deputados federais mudaram de sigla durante a janela deste ano, o que corresponde a 30% do total de parlamentares. É a institucionalização legalizada da infidelidade...

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MAURÍCIO COSTA ROMÃO

Publicado em 12/04/2022 às 8:14
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Depois de ter que encarar a camuflagem das coligações proporcionais, via federações de partidos, e a imoralidade do Fundo Eleitoral, os brasileiros assistem estarrecidos a outra aberração perpetrada no sistema político-eleitoral: o troca-troca de agremiações pelos parlamentares através da janela partidária.

Estima-se que cerca de 154 deputados federais mudaram de sigla durante a janela deste ano, o que corresponde a 30% do total de parlamentares. É a institucionalização legalizada da infidelidade partidária, na contramão da formação de partidos mais sólidos e vertebrados programaticamente.

Em que pese a natureza inorgânica e incoerente dos partidos brasileiros e sua descarada sustentação pragmática em conveniências eleitorais,
é oportuno investigar como se deu essa migração de parlamentares, em termos dos espectros ideológicos dos partidos. Para tal, fez-se uso de estudo da UFPR (“Esquerda, centro ou direita? Como classificar os partidos no Brasil”, nov 2020).

No estudo, PSTU, PCO, PCB e PSOL foram classificados como de extrema esquerda, PCdoB e PT de esquerda, PDT e PSB de centro-esquerda, REDE, Cidadania e PV de centro, e os demais 24 de centro-direita e de direita.

Pois bem, levando em conta essa tipologia e a janela partidária deste ano, o “campo” à esquerda findou com 110 parlamentares (8 de extrema esquerda, 62 de esquerda e 40 de centro-esquerda). No início desta legislatura, 133 parlamentares eleitos se enquadravam na classificação de esquerda (10 de extrema esquerda, 63 de esquerda e 60 de centro-esquerda).

Houve, portanto, um encolhimento do campo esquerdista em 23 parlamentares. Como o centro também diminuiu de 13 para 12, deduz-se que os 23 deputados da esquerda foram se aconchegar em espaços acolhedores da direita, retratando a descaracterização ideológica que campeia na matriz partidária brasileira e o aspecto meramente eleitoreiro dessa janela.

Já as hostes da direita, que iniciaram a legislatura em 2019 em número de 367 parlamentares incorporaram mais 24 (um do centro e 23 da esquerda) e se encontram agora com 391 legisladores.

Mas esta inclinação da Câmara mais à direita significa o quê em um país com cultura presidencialista e um quadro partidário caótico? Talvez seja melhor ficar com o que disse o ex-presidente Temer recentemente: “rotular esquerda e direita no Brasil é balela eleitoreira”!
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Maurício Costa Romão, é Ph.D. em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. [email protected]

 

 

 

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