O uso das máscaras tem uma longa história. O registro dos primeiros exemplares de máscaras antropomórficas tem cerca de 10 séculos a.C. com a serventia de cobrir o rosto para afastar maus espíritos e servir de proteção frente ao medo das entidades sobrenaturais. Um disfarce.
O notável teatro grego incorporou aos dramas e às tragédias, as máscaras teatrais, incluídas, também, nas festas dionisíacas para realçar a desmedida dos prazeres da carne e do vinho. Nas encenações, as máscaras davam vida, força, significado às personas (soar através) transformando atores em personagens.
Belo ou grotesco, imitação ou inversão, a verdade é que a máscara assumiu dois papeis preponderantes: o artístico/lúdico, gerando, a partir do teatro popular italiano, commedia dell'arte, tipos burlescos como Arlequim, Pierrot e Colombina; o outro papel assumido foi o servir de proteção à saúde pública e à higidez ambiental.
Pois bem, a devastadora pandemia causada pelo coronavírus transformou a máscara de proteção à saúde no mais eficaz escudo à contaminação e à propagação do traiçoeiro inimigo da vida humana que desafiou os limites da ciência.
Foi um ataque contra a Humanidade desarmada. Sem vacina e sem prescrições clínicas baseadas em evidências, o poderoso mundo globalizado ficou seriamente ameaçado. No meio do caminho, a estupidez política e a escuridão negacionista da ignorância agravaram, no Brasil, os impactos da catástrofe sanitária.
Soluções rápidas e radicais, a exemplo da inevitável quarentena, exigiam, a mobilização social de autoridades que, explicitamente, subestimaram os danos do corona e articularam o discurso do falso dilema entre o valor da vida e o preço dos inevitáveis prejuízos econômicos.
Inimagináveis as dores do corpo e da alma dos que viveram a dramática experiência. Não me refiro à perda de familiares e amigos, menciono o luto e a dor universal que iguala todos na desgraça.
Sobrevivemos. A liberação dos uso das máscaras é a boa nova. Porém, cabe não esquecer a fragilidade do caniço pensante que somos nós.
De fato, a claridade das manhãs de um sol acolhedor volta a acender a chama da esperança; o abraço, o aperto das mãos renovam o compromisso do afeto; os rostos sem máscaras revelam marcas, lições e uma profunda gratidão.
A gratidão é dirigida ao "jaleco branco", os profissionais de saúde e todos os trabalhadores do setor. Foram para a linha de frente lutar pela vida dos outros hipotecando suas vidas. Durante a gestação das soluções científicas, aplicaram a terapia intensiva de amor ao próximo.
Gustavo Krause, ex-governador de Pernambuco