Ela foi registrada com o nome de Valderice. Hoje é conhecida apenas por Val. Embora tenha sido ex-secretária parlamentar de Bolsonaro, ela desconhece o sentido das palavras cargo, função e assessor. Sequer Brasília lhe foi apresentada. Por isso ignora as palavras de Clarice Lispector: Brasília não tem esquinas. Mas é no centro do poder que a iniquidade prospera.
A política se alimenta ou nutre de mitos. O nosso Presidente vive não apenas de mitos, mas, acima de tudo, de mantras. O mais conhecido é: "no meu governo não há corrupção". Desconfio que o significado do vocábulo foi adulterado. Por isso a turma de seduzidos e arrebatados pelo Cacique repercutem a mesma frase. O mesmo sucede com Val. Parecia pobre, simples e ingênua quando se enredou nas teias do maquiavelismo político. Num país de desempregados, virou privilegiada.
As denúncias de corrupção existem desde 2018 quando a mídia passou a divulgar que a moça do açaí e terceiros se beneficiaram das rachadinhas. Pobre "fidalga"! Ela só recebia um "tiquinho". Precisava completar o ganha-pão vendendo açaí e cupuaçu na Vila Histórica de Mambucaba onde a família Bolsonaro tem casa de veraneio.
Em 2020 a "ex-assessora" foi candidata, em Angra dos Reis, ao cargo de vereadora com o apoio da família Bolsonaro. Obteve 266 votos, prova de que a vocação da candidata era mesmo para o fruto arredondado que nasce em cachos. Val é uma analfabeta cibernética, jamais fez concurso público, mas é detentora de um talento ou aptidão que poucos exercitam: saber escutar e calar.
Temo sempre pelo nome Justiça. Talvez existam dois sentidos para o vocábulo: a justiça do homem comum e a dos que fazem a política de mantras.
Há dias uma jovem senhora chamou o marido de corrupto repetindo a frase de Agustina Bessa Luís: "As nossas corrupções são a nossa própria vida". O fato é que a ação judicial por calúnia, injúria e difamação foi imediata. Mesmo tendo sido operada de um enorme tumor maligno, a audiência foi agendada para três meses após a cirurgia. Isso inverte a frase de Oto Lara Rezende: o brasileiro não é solidário sequer no câncer. Diferente sucederia com as denúncias contra as autoridades da República enfermiça, notadamente com o Presidente e sua prole. Para eles, a justiça é uma estatueta de olhos cerrados carregando uma balança de lâmina de flandres.
Dayse de Vasconcelos Mayer, advogada.