Todos os candidatos a presidente da República prometem ampliar os programas de transferência de renda para enfrentar a pobreza. Compreensível, diante da gravidade da crise social do Brasil.
Mas se trata de uma medida simples e de efeito imediato para lidar com um problema complexo e de múltiplos determinantes. Ignora a principal causa da pobreza: a estagnação econômica.
Com efeito, a taxa de pobreza declinou de 2002 a 2012, e voltou a crescer desde 2013, sem que tenha havido redução da transferência de renda.
A pobreza flutuando na razão inversa do ritmo da economia. O que diferencia os dois períodos é precisamente a taxa de crescimento da economia, com seu efeito direto sobre o desemprego e a renda da população.
De 2002 a 2012, a economia brasileira cresceu em torno de 3,9% ao ano, levando a uma queda rápida do índice de pobreza. Nos sete anos seguintes (de 2013 a 2019), o PIB do Brasil ficou praticamente estagnado (crescimento médio de 0,5% ao ano), o desemprego saltou e o PIB per capita diminuiu. Com um baque deste porte na economia, a pobreza cresceu e a transferência de rendaconsegue, no máximo, moderar o desastre social.
Por isso, se querem elogiar Lula pela diminuição da pobreza no seu governo, esqueçam o Bolsa Família e enalteçam a sua política macroeconômica, precisamente a continuidade das bases definidas no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso.
O resto foi resultado da feliz coincidência com o excepcional dinamismo econômico global no período, a aceleração do processo de globalização com a intensificação do comércio mundial e a ampla liquidez internacional.
Portanto, voltando aos candidatos, se quiserem saber o que eles pretendem fazer para enfrentar a pobreza, esqueçam suas promessas de transferência de renda, perguntem qual será a sua política econômica e até que ponto se pode, realmente, esperar uma retomada do crescimento econômico do Brasil.
As condições futuras não serão tão favoráveis quanto as que tivemos na primeira década deste século, vamos ter graves restrições fiscais e pressões e o contexto internacional também não vai ajudar muito, com protecionismo comercial e a elevação das taxas de juros nos países centrais levando a um período de modestas taxas de crescimento econômico.
Apesar das dificuldades, para combater a pobreza, o futuro do governo terá que apostar na recuperação da economia. Do contrário, a prometida transferência de renda vai continuar apenas enxugando gelo.
Sérgio C Buarque é economista