Bredo, tradição da Semana Santa

Há prato melhor do que uma moqueca de arraia no dendê e no coco, acompanhada de bredo, farofa amarela e molho de pimenta? É bom estarmos mais atentos às plantas e ervas, tão fartas e diversificadas no Brasil
ARTHUR CARVALHO
Publicado em 05/04/2023 às 0:00
O bredo é um manjar do céu. Sei que o leitor não se importa com o meu gosto por comida Foto: TV Jornal/Reprodução


A Primavera voltou à Europa, florindo as árvores que se vestem para o verão, que se aproxima. As chuvas também voltaram a cair no Rio Grande do Sul e no sertão do Nordeste. E encheram de esperança não somente os rios e açudes, que atravessaram três anos de seca, mas também o coração do sertanejo para uma boa colheita, nos próximos meses, de milho e feijão, e de agradecimentos a São José, pai de Jesus, e a Maria, que mandaram as chuvas no tempo certo, para abastecer mais cacimbas e regar suas hortas.

E agora, com a aproximação da Semana Santa, a grande notícia: "a abundante e breve safra de bredo", o bredo ao coco. Há prato melhor do que uma moqueca de arraia no dendê e no coco, acompanhada de bredo, farofa amarela e molho de pimenta? É bom estarmos mais atentos às plantas e ervas, tão fartas e diversificadas no Brasil.

Poucos sabem, por exemplo, que os melhores pratos da riquíssima cozinha baiana não são o popular vatapá, o caruru e o acarajé, facilmente encontrados nos tabuleiros das baianas no Rio Vermelho, Farol da Barra e Pelourinho. O mais gostoso do prato da cozinha baiana é o efó, feito da folha da taioba, com azeite de dendê, camarão no espeto defumado (não confundir com camarão seco de Pernambuco que não é defumado), lascas de pititinga, castanha de caju ralada e sal à vontade. É comida encontrada mais nos terreiros de candomblé porque seu aspecto não agrada turistas, pobres deles. É bom saber que a taioba é muito parecida com uma planta venenosa. Cuidado!

O bredo é um manjar do céu. Sei que o leitor não se importa com o meu gosto por comida, o que não me impede de declarar que dependendo de mim teríamos bredo durante o ano todo, abarrotando e enfeitando nossas feiras livres e supermercados. E sugiro, modestamente, que peçamos aos agricultores japoneses que desenvolvam uma pesquisa para plantarmos e colhermos bredo o ano inteiro, assim como fizeram com o nosso abacaxi, nossa laranja, nosso tomate e outras frutas e verduras.

Mas falando sobre as comidas e receitas, me veio à mente a mesa de minha avó materna Elisa, no sábado de aleluia, mesa comprida de jacarandá (madeira comum à época na Bahia), coberta com toalha de linho branco, exibindo os pratos de moqueca de siri-mole, fritada de aratu, caruru, abará, aberém, bolo Pio IX, licor de jenipapo, vinho do Porto, arroz de haçuâ e farofa de dendê.

Arthur Carvalho, da Academia de Artes e Letras de Pernambuco

 

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