O dia amanhece com o silêncio de sempre. A natureza, entretanto, brada uma chuva de intensa harmonia. A beleza das águas inunda o terreno baldio à minha frente. Tenho a sensação de que os barulhos que se seguem são companheiros de longa data. Ouço ruídos calorosos como se o cenário acolhesse inúmeros mistérios. Gosto de sentir o que em princípio não consigo explicar, a vida sempre precisa de entendimento. Por acaso, será que não necessita? Há tantos enigmas ao redor que me sinto alheia às circunstâncias. Então, cenários múltiplos se renovam em torno de uma inocência quase infantil. Quantas vezes dedico-me a entender paisagens múltiplas?! De nada sei, atravesso os momentos plena de incertezas. Interrogações me acolhem! Não desejo mudar as perspectivas que me tocam. Por isso, entrego-me às incógnitas que habitam o cotidiano.
Serei eu única diante de sensações inovadoras? Não sei responder, mas acredito nas brumas que invadem os cenários da vida. Indagações crescem na mente. Não sou capaz de atendê-las; amplio, todavia, o número de dúvidas que me avultam. Vou de um lado para o outro, percorro desconhecidos caminhos e me enxergo sempre em espanto. Não evito ruídos sem respostas. Ao contrário, amo o que há de complexo na rotina diária. Serei única na inexatidão dos fatos? Tantas folhas despontam em meio a galhos secos... A renovação das horas permite transbordar mil incertezas... tantas as perplexidades que me fazem atônita diante da própria existência.
Opto pela aceitação do que não sei. As circunstâncias eclodem em inesperados momentos. Estarei sempre em plena atenção diante dos dogmas. Entretanto, nada posso explicar, porque não sou capaz de responder às sombras da existência. Ainda bem. Quão simplório seria o ontológico ausente do seu próprio perfil? Somos todos iguais, mas não queremos aceitar os acumulados ruídos que se espalham ao derredor.
Tenho as mãos vazias e a mente plena de erupções. Não faz mal. Sigo por caminhos múltiplos, vou e volto, penetro nas cruzadas, desligo-me de tudo e me deixo invadir pelas desconhecidas circunstâncias. Quantas vezes entrego-me ao vazio do que sou? Não adianta insistir nas contradições, opto por aderir à complexidade da vida. Vejo-me pequena demais diante da imensidão do secreto. Estarei discorrendo sobre o nada? Talvez sim. Não importa. Serei sempre a interrogação que me satisfaz. Loucura? Quem sabe?!
Abraçarei o inexato, assim, me vejo mais completa e enxarcada de interjeições. Nossa vontade e nosso pensamento se confundem diante dos instantes que vivenciamos; temos tão poucos recursos que vale a pena desmontar as alegorias que nos cercam. Repito o poeta Fernando Pessoa: "Acima da verdade estão os deuses./A nossa ciência é uma falhada cópia/Da certeza com que eles/sabem que há o Universo".
É hora de silenciar e de escutar o que não ouço e preciso ouvir.
Fátima Quintas , da Academia Pernambucana de Letras