Tive a honra de ser convidado pelo Reitor Alfredo Gomes (UFPE) para participar da reunião dos dirigentes de nossa Universidade com a Ministra da Cultura Margareth Menezes. Naquela ocasião, Alfredo me franqueou a palavra para que eu pudesse expor - "em dois minutos!" - um projeto cultural em que venho insistindo há algum tempo: a reativação das antigas "Praças de Cultura" do MCP (1960-1964), imaginadas e executadas pelo artista plástico Abelardo da Hora. A Ministra me pareceu bastante receptiva ao projeto, mas, como aprendi, dolorosamente, que a política é o lugar de todas as esperanças e desilusões...
O que me chamou a atenção naquele encontro foi o grande interesse do Reitor em dar especial atenção à "cultura", ao ponto de pensar na possibilidade de criação de uma Superintendência universitária especial para a área. E espero que, aqui, minha esperança supere a desilusão!
A ideia de EXTENSÃO universitária, nascida, entre nós, pela iniciativa de Paulo Freire à época do reitorado de João Alfredo da Costa Lima, no início dos anos 60, previa que a "cultura universitária" poderia se projetar no interior do social - uma política de "extensão" do saber elaborado- e a própria universidade poderia se fazer penetrar, não apenas por demandas sociais externas, mas refletir sobre as diversas linguagens em que a cultura circulante no social é expressa. Apenas um exemplo para ilustrar minha tese: o pernambucano Antônio Carlos Nóbrega foi, durante muito tempo, professor de Danças Brasileiras na prestigiosa UNICAMP!
A cultura é um lugar de TENSÃO, quer dizer, nela está em jogo a agonística entre Natureza e processos sociais institucionalizados, entre o dado e o adquirido, entre a permanência e a mudança, entre verdades diferentes e válidas, entre identidades em convívio e em conflito, entre o que somos e o que poderíamos ser, entre a claridade e a escuridão... Aquilo que chamamos de EX-TENSÃO (universitária) é a possibilidade de que um tipo de saber conceitual (humanidades, ciências da natureza, ciências da vida, linguagens, estética...) possa chegar ao "senso comum": um gesto de esclarecimento (mais do que "iluminista") que visa oferecer à sociedade critérios mais elaborados nas escolhas que faz, inclusive políticas, critérios absolutamente necessários à existência dos regimes democráticos. É aqui onde entrevejo a importância e a relevância de um projeto que reative, republicanamente, as chamadas Praças de Cultura (projeto que envolverá a Secretaria de Cultura do Recife, a Fundaj, a Fundação Abelardo da Hora e as Universidade Federal e Rural.
Mas parece que nosso Reitor também está interessado não apenas numa política "ex-tensionista", mas também num programa de, e peço licença pelo neologismo, IN-TENSÃO: se a Extensão se volta para o que está "fora" de nossos muros", a IN-TENSÃO se dirige ao que nós mesmos produzimos internamente e nunca tomamos conhecimento. Não se trata apenas de "se fazer conhecer", mas de "nos conhecermos a nós mesmos". Não basta derrubar muros, temos que atravessar a rua! A ideia é criar um encontro permanente de alunos, técnicos e professores apresentando suas produções artísticas e intelectuais ao próprio público universitário (ou a quem se interessar!) utilizando de todos os meios de divulgação de que a universidade dispõe e criando um canal institucional de expressão, nos moldes do CURTA UFPE.
Não me cansarei de repetir, sobretudo depois que nossas universidades sofreram um ataque sistemático e planejado sob o governo Bolsonaro, que precisamos defender a Universidade: mais do que os portos ou aeroportos, as universidades são o lugar mais aberto e universal de que uma cidade dispõe, onde pessoas e ideias podem eventualmente circular sem passaporte, sem visas e permissões. Mas para isso precisamos dizer aos "outros" qual a razão de existirmos e de defender nossa permanência, mostrando que cultura e democracia são irmãos siameses!
Concluo deixando registrado publicamente meus agradecimentos àqueles que abriram os braços para esse projeto que apresentei: Ricardo Mello, Alfredo Gomes, Marcelo Carneiro Leão, Márcia Ângela Aguiar e Daniel da Hora.
Flávio Brayner, professor emérito da UFPE e visitante da UFRPE