A avaliação positiva do governo Lula é de 38% (Ótimo/bom). A negativa, 31% (Ruim/péssimo) – Pesquisa Datafolha, 14/09/2023. Ocorreu variação positiva da avaliação negativa. Em julho, era de 27%. Qual a razão da variação? Diversos jornalistas procuraram ouvir especialistas/analistas sobre isto. Todos apresentaram diversas causas, as quais eram especulações. A porcentagem é uma parte da revelação. A parte relevante são as causas da variação.
O relevante na última pesquisa do Datafolha não é a variação ocorrida. Em agosto de 2003, a avaliação negativa do governo Lula era de 10%. E em agosto de 2007, 15%. Por que a avaliação negativa do atual governo Lula é expressiva quando comparada com as avaliações anteriores? Simples. Na era Lula inicial (2003 a 2010) não existiu a Lava Jato, apesar do Escândalo do Mensalão. E, atualmente, existe o bolsonarismo, o qual disputa espaço, com o lulismo. Lembrando que lulismo não é petismo. São categorias diferentes.
Antes da Lava Jato e do bolsonarismo, a avaliação positiva do governo Lula alcançou porcentagens expressivas: 1) Dezembro de 2006, 59% de ótimo/bom. E 13% de ruim/péssimo; 2) Setembro de 2010, 72% de ótimo/bom. E 6% de ruim/péssimo. É nítido, assim como mostrei em recentes livros, que a Lava Jato enfraqueceu fortemente o lulismo. E em seguida, o bolsonarismo, como fenômeno social de massa, condicionado pela Lava Jato, consolidou a queda da popularidade do lulismo e disputa com ele espaço no ambiente eleitoral.
A atual avaliação negativa do governo Lula, a qual é bem diferente das eras lulistas iniciais, é explicada pelos seguintes fatores: 1) Enfraquecimento do lulismo ocasionado pela Lava Jato; 2) A força do bolsonarismo; 3) A exigência de parcela do eleitorado por algo bem mais concreto do que já foi feito pelo governo Lula até o instante na economia. Uma grande dúvida que tenho é se o atual governo Lula proporcionará o “perdão” de parte dos votantes para com Lula. Lembrando que a rejeição a Lula, a partir de 2017, diminuiu. Ela seguirá a declinar em razão da nova era Lula?
Considerando que o lulismo, repito, e não petismo, é fenômeno social econômico, o bom desempenho da economia neste novo governo Lula pode favorecer o aumento da popularidade do governo e a diminuição da rejeição ao lulismo. Concomitantemente, poderá ser observado o aumento da rejeição do bolsonarismo. Pesquisas qualitativas da Cenário Inteligência revelam que em diversas cidades é relevante a preferência dos eleitores por Bolsonaro quando se deparam com a seguinte indagação: Na presidência da República, você prefere Lula ou Bolsonaro? Destaco, que na região Nordeste, a preferência majoritária é por Lula.
As referidas pesquisas mostram que existe satisfação com o governo Lula e expectativas com exigências, as quais são resumidas nas seguintes frases: “Ainda não vi muita coisa”, “Estou esperando mais”, “Falou muito e até agora não vi nada”, “O combustível aumentou, e ele disse que não aumentaria”. Portanto, parte dos eleitores ainda aguarda mais. A expectativa de querer mais e a preferência por Bolsonaro impossibilitam o crescimento expressivo da avaliação positiva do governo Lula e a atual avaliação negativa, 31%.
Qual o futuro do governo Lula? O óbvio, inicialmente, está posto: se a satisfação com a economia aumentar, a avaliação positiva do governo Lula crescerá e a preferência por Bolsonaro diminuirá – Cenário 1. Caso não, o efeito contrário acontecerá – Cenário 2. Não perco de vista, contudo, o surgimento de novas preferências. Ressalto que a aprovação inicial do novo arcabouço fiscal e da reforma Tributária mais a entrada do Centrão no governo são evidências que sugerem que o cenário 1 será realidade.
Adriano Oliveira, Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência.