Há, no processo educacional, uma grande diferença entre a teoria e a prática. No Brasil, sobretudo, os discursos levam a falas que a realidade espelha como falácias.
Os políticos, os intelectuais e os empresários estão roucos do clamor em prol da educação e, contudo, de concreto, pouco fazem no intento da melhoria do ensino, dos avanços à real e verdadeira escola de qualidade, escola que tenha significado no cotidiano dos seus aprendizes, que prepare os seus alunos, por exemplo, para a vida profissional, além de formá-los, ética e moralmente, aos ditames da cidadania.
As injunções constitucionais, conquanto importantes e nobres, incumbem o poder público do dever de ministrar a educação básica, que compreende a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, no seu caráter universal, obrigatório e gratuito, constituindo-se, quase diria, em falácias os artigos da LDB, desde o seu nascedouro às atualizações subsequentes, que vão se constituindo em letras mortas à medida que a realidade vai negando, por pressões outras, o que se põe à redenção de um país ainda avassalado pela crise econômica, tomado pelo desemprego, pelo crescimento desordenado, pela multiplicação dos brasileirinhos em ninharias preocupantes ao futuro próximo.
Em 2025, vai se dar a culminância do Plano Nacional de Educação, consoante a Lei n 13.005, de 25/07/2014. Destarte, uma lei decenal, que fixou 20 metas para a educação brasileira e que ainda muito deve ao País, no que tange ao cumprimento, em porcentagens expressivas, os cocientes aceitáveis.
É uma pena o tratamento dado pelos burocratas da educação, neste país, ainda arraigado à tecnologia terceiro-mundista e assim poderá se perenizar se não se alcear a âncora do imobilismo, o que somente ocorrerá quando a sociedade caminhar na esteira do conhecimento, a exemplo do Japão e da Coréia do Norte, um e outro por razões distintas, conquistando o desenvolvimento desde que tomaram como foco a educação.
Que se evite a política educacional traçada por planejadores confinados em gabinetes, longe do pragmatismo desejado, do contato com os professores e com os estudantes que podem e devem externar os seus anseios e expectativas, abrindo a janela do diálogo entre professores e alunos, ampliando esse arco de debate com os técnicos, mormente os que vivenciam a educação.
Ainda não houve ou houve de forma escassa, neste país, uma pesquisa junto aos diversos segmentos da vida escolar, inclusive no universo dos familiares, das comunidades circunvizinhas aos colégios, para perfis mais próximos da realidade social dos educandos, objetivando sermos o contexto e não apenas o texto, que é a fala e, por vezes, a falácia de desavisados. O que mais se pretende, além da universalização praticamente alcançada, é a permanência dos alunos num processo pedagógico de qualidade.
Uma escola cidadã, capaz de interagir os temas transversais, o pensamento cognitivo, as inteligências múltiplas e emocionais, a inteligência artificial, a formação ética e moral, religiosa, apta a abrir as portas das universidades e os caminhos de um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e globalizado.
Estamos longe da escola do século 21, tamanho o atraso das práticas pedagógicas trabalhadas na escola brasileira. De bom alvitre, as escolas de tempo integral. A lamentar, a forma como o Ministério da Educação (MEC) faz os repasses de recursos às Secretarias de Educação estaduais e municipais e não exercem cobrança de resultados a essas redes de ensino. Estamos falando de responsabilização.
Nos municípios, os prefeitos precisam dar maior importância à educação, notadamente à educação infantil em que lhe cabem a tarefa da educação nas séries iniciais, em particular à alfabetização, que conduz o educando, ao longo de sua vida estudantil, à aprendizagem.
O adolescente, no seu caminhar, mal alfabetizado, passa a ter dificuldade na interpretação de textos, por vezes experimentando dificuldade na compreensão, por exemplo, dos problemas de matemática, porque não consegue interpretar um axioma, um teorema, uma equação, uma fórmula.
Como consequência, os indicadores educacionais brasileiros, com diferenças regionais, estão, no ranking mundial, abaixo das escalas exibidas, principalmente, no período pós-pandêmico.
Acreditar é preciso...Seja, apesar de tudo, de crença a nossa profissão de fé nos governos federal, estaduais e municipais, para que o Brasil encontre, pela via da educação, o seu desenvolvimento, que se deseja justo e equânime
Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo (Abevt).